domingo, 6 de janeiro de 2019

Bird Box - o que não podemos ver?


Achei muito interessante o filme “Bird Box”. Não tenho a pretensão de decifra-lo, pois é muito rico em simbologia e cabe a cada um nós a interpretação própria, mas não pude deixar de pesar no que é esse monstro tão poderoso, que não pode ser visto.

Acredito que logo na primeira cena há uma pista disso. A personagem principal, Malorie, pinta um quadro onde as pessoas se apresentam tristes, apáticas, desconectadas delas próprias e com o outro. A humanidade de fato, a cada dia mais, aponta casos de depressão, síndrome do pânico, transtorno de ansiedade, dentre várias outras enfermidades emocionais. Provavelmente, o que não pode ser visto, o que nos faz sucumbir, é a entrega a essas angustias que vivem dentro de nós e ao nosso redor.

Quando nos entregamos ao sofrimento, e sim, ele existe, não é imaginário...nós desistimos de lutar, só focamos nele, todo o resto passa a não ter sentido, paramos de enxergar o belo, paramos de sentir os perfumes, paramos de tocar e sermos tocados, paramos de saborear a vida. Quando um personagem sucumbia, é possível notar que nada mais importava, o foco na dor era tão poderoso, que a única alternativa era acabar com a vida, não havia mais sentido em viver.

Melorie, inicia sua história com grande dificuldade em amar, demonstra rejeição a criança que está gerando e desinteresse em qualquer tipo de afeto. Se isola dos outros e de si mesma. Tem dificuldade em nomear o que sente, prefere não dar nome aos filhos, chamando-os de “garota” e “garoto”, numa tentativa ilusória de não se vincular e não sofrer. Porém, quando surge o desafio, ela não se entrega ao sofrimento, ela não desiste. E nessa insistência percebe que é o amor que esta faltando em sua existência. Descobre que o amor verdadeiro é concreto e difícil. Nessa experiencia, através de um gesto da personagem “garota”, ela reconhece o amor dentro dela e essa descoberta lhe traz mais forças para chegar ao destino de paz que procura.

Esse destino no filme é um local onde as pessoas não enxergam. Entendi que é um local onde as pessoas escolheram não focar na dor e apreciarem a vida.

Portanto, esse monstro externo que não se pode ver, na realidade mora dentro de nós, mas essa conclusão é tão sofrida que projetamos no externo. Tudo é causado pela falta de amor próprio, pela falta de autoconhecimento. Quando vivemos no automático, somos expostos aos nossos monstros internos e sem preparo algum, somos sucumbidos por eles.
Mas, se procuramos ter uma conduta de autodescoberta, se vivemos num ambiente onde as nossas emoções são valorizadas, se queremos saber quem somos, esses monstros não terão forças de nos fazerem desistir da vida.

Precisamos sair da caixa, assim como os pássaros do filme, e viver sabendo e reconhecendo nossos medos e fracassos. Sem desistir. Devemos percorrer todo o trajeto com dedicação, determinação e principalmente com amor.