segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Sindrome de Pica

Síndrome de pica
A síndrome de pica é rara entre seres humanos, e significa ter apetite por coisas ou substâncias não alimentares (solo, papel, terra, moedas, carvão, giz, tecido, etc.) ou uma vontade anormal de ingerir produtos considerados ingredientes de alimentos, como diversos tipos de farinha, de tuberosas cruas (como batatas), amidos (por exemplo de milho ou de mandioca), etc.
Para que tais hábitos sejam considerados pica, é preciso que persistam pelo menos um mês durante um período de vida quando não se considera normal, dentro do quadro de desenvolvimento humano, utilizar a boca para explorar e ingerir coisas como barro, excremento, brinquedos, solo, botões, pedrinhas, etc., como o fazem frequentemente as crianças menores.
A pica pode ser observada em todas as idades, mas especialmente em mulheres gravidas e em crianças sofrendo dificuldades no desenvolvimento infantil normal.
Tipos de pica
·         Acufagia - ingerir objetos pontiagudos
·         Amilofagia - comer amido
·         Auto-canibalismo - comer partes do corpo (raridade)
·         Cautopireiofagia - ingerir palitos de fósforo apagados
·         Coniofagia - comer pó
·         Coprofagia - comer excremento
·         Emetofagia - comer vomito
·         Geomelofagia - comer (freqüentemente) batatas cruas
·         Geofagia - ingerir terra ou solo
·         Ctonofagia - ingerir terra ou argila
·         Hematofagia - comer sangue
·         Hialofagia -ingerir vidro
·         Lithofagia - comer pedras
·         Mucofagia - ingerir muco
·         Pagofagia - comer (patologicamente) gelo
·         Trichofagia - comer cabelo ou lã (fios ou tecido)
·         Urofagia - ingerir urina
·         Xilofagia - comer madeira

 Para resolver o problema, é necessário realizar um acompanhamento psicológico para a identificação da causa dessa vontade, que geralmente está ligada à outros problemas, e das possíveis formas de interferir nela.
Algumas causas para a vontade de comer coisas estranhas podem ser:
  • problemas psicológicos, como estresse, ansiedade, separação dos pais, problemas na interação familiar, abuso infantil;
  • problemas relacionados à fome, desnutrição ou à falta de nutrientes como o ferro, cálcio e zinco;
  • problemas neurológicos, como em crianças com autismo e pessoas com atrasos no desenvolvimento intelectual;
  • costumes socioculturais;
  • doenças psiquiátricas.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Conto: A Filha de Nossa Senhora

“A Filha de Nossa Senhora”
(Irmãos Green)

Perto de uma imensa floresta vivia um lenhador junto com sua esposa, que tinha apenas uma única filha, que era uma garotinha com três anos de idade. Eles eram, entretanto, tão pobres que nem o pão de cada dia eles tinham para comer, e não sabiam como conseguir comida para a filha. Um dia de manhã, o lenhador saiu preocupado para o seu trabalho na floresta, e enquanto ele estava cortando lenha, subitamente apareceu diante dele uma mulher alta e bela, como uma coroa de estrelas que cintilavam em sua cabeça, e que disse a ele:
— “Eu sou a Virgem Maria, mãe do menino Jesus. Você é pobre e necessitado, traga a tua filha para mim, eu vou levá-la comigo e serei a mãe dela, e cuidarei dela.”
O lenhador obedeceu, trouxe a sua filha, e a deu para a Virgem Maria, que a levou com ela para o céu. Lá, a criança passava bem, comia pães doces, e bebia leite com açúcar, e suas roupas eram de ouro, e os anjinhos brincavam com ela. E quando ela tinha quatorze anos de idade, a Virgem Maria a chamou um dia e disse: “— Querida filhinha, eu preciso fazer uma longa viagem, então, e ficarão sob tua guarda as chaves das treze portas do céu.
Doze destas você poderá abrir, e contemplar toda a glória que há dentro delas, mas a décima terceira chave, que é esta que está aqui, você não deverá abrir. Se você abrir esta porta, ele trará muita infelicidade para você.” A garota prometeu ser obediente, e quando a Virgem Maria saiu, ela começou a examinar as habitações do reino dos céus. Todo dia ela abria uma delas, até que ela completou a volta com as doze chaves.
Em cada uma delas havia um dos Apóstolos cercado por uma grande luz, e ela se regozijava diante de tanto brilho e de tanto esplendor, e os anjinhos que sempre a acompanhavam ficavam felizes com ela. Então, a porta proibida era a única que faltava, e ela ficou muito curiosa em saber o que poderia estar oculto dentro dela, e disse para os anjos:
— “Não vou abrir essa porta, nem entrar dentro dela, mas eu irei abri-la só um pouquinho para ver através da abertura.”
— “Oh não,” disseram os anjinhos, “isso seria um pecado. A Virgem Maria proibiu isso, e isso poderia causar uma grande infelicidade para você.” Então, ela ficou em silêncio, mas o desejo em seu coração era maior que a própria vontade, e isso a corroía, e a atormentava, e não deixava que ela descansasse. E uma vez, quando todos os anjos haviam saído, ela pensou:
— “Agora, eu estou sozinha, e eu poderia dar uma olhadela. Se eu fizer isso, ninguem nunca ficará sabendo.”
Ela procurou a chave, e quando ela a pegou em sua mão, ela colocou na fechadura, e quando ela enfiou a chave na fechadura, ela a girou. Então, a porta se abriu, e ela viu lá dentro a Trindade sentada no meio de um grande fogo e com grande esplendor. Ela ficou lá por algum tempo, e olhava para tudo com assombro, então, ela tocou um pouco a luz com o seu dedo, e o seu dedo ficou coberto de ouro.
Imediatamente ela ficou possuída de um medo muito grande. Ela fechou a porta com força, e fugiu dali. O pavor que ela sentiu não diminuía, e qualquer coisa que fizesse, o seu coração batia descompassadamente e não havia como acalmá-lo, o ouro permanecia revestindo o seu dedo, e não saía de jeito nenhum, mesmo que ela esfregasse bem forte e o lavasse bastante.
Pouco tempo depois a Virgem Maria retornou de viagem. Ela chamou a garota diante dela, e pedu para que a garota devolvesse as chaves do céu. Quando a menina havia lhe dado o molho de chaves, a Virgem olhou os olhos dela e perguntou:
— “Você abriu a décima terceira porta também?”
— “Não,” ela respondeu. Então, ela pôs a mão no coração da garota, e viu que o coração da menina batia muito forte, e percebeu imediatamente que ela tinha desobedecido as suas ordens e tinha aberto a porta proibida.
Então, ela perguntou novamente:
— “Tens certeza de que não fizeste isso?”
— “Sim,” disse a garota pela segunda vez. Então, ela viu o dedo que tinha ficado de ouro ao tocar o fogo do céu, e percebeu que a garota tinha pecado, e perguntou pela terceira vez.
— “Não fizeste mesmo isso?”
— “Não,” disse a garota pela terceira vez.
Então, a Virgem Maria disse:
— “Você me obedeceu, e além disso, você mentiu para mim, portanto, você não é mais digna de ficar no céu.”
Nesse momento, a garota caiu em sono profundo, e quando ela acordou, ela estava lá em baixo na Terra, e no meio de um deserto. Ela quis gritar, mas a sua voz não saía. Ela pulava e queria correr, mas, para onde quer que ela se virasse, era detida continuamente pelas cercas de espinho que ela não conseguia atravessar. No deserto, onde ela fora aprisionada, havia uma árvore oca, e esta árvore oca passou a ser a casa dela.
Diante disto, quando a noite chegou, ela se arrastou até a árvore e ali ela dormiu. Ali, também, ela encontrou abrigo contra a tempestade e contra a chuva, mas essa era uma vida infeliz, e ela chorou amargamente quando ela se lembrava de como ela tinha sido feliz no céu, e de quando os anjinhos brincavam com ela. Raízes e frutas selvagens eram tudo o que ela tinha para comer, e onde quer que ela fosse era isso que ela procurava. No outono, ela apanhava as castanhas e as folhas que caíam e as levava para o buraco.
Comia as castanhas como alimento no inverno, e quando a neve e o gelo chegaram, ela se arrastava por entre as folhas como animal abandonado para que não morresse congelada. Não se passou muito tempo e suas roupas estavam todas rasgadas, e um pedacinho após o outro foram caindo aos poucos. No entanto, assim que o sol voltava a brilhar e a aquecer, ela saía e ficava sentada em frente da árvore, e os seus cabelos cobriram todo o seu corpo como se fosse uma manta.

Assim ela ficou, ano após ano, e sentia a dor e a desgraça do mundo. Um dia, quando as árvores se vestiram novamente de folhas verdes e frescas, o rei daquele país estava caçando na floresta, e seguia um cabrito montês, e como o cabrito havia se refugiado numa clareira que se abrira num pedaço da floresta, ele desceu do cavalo, e foi arrancando o mato, e abria caminho com a sua espada. Quando finalmente ele chegou do outro lado, o rei viu uma garota maravilhosamente linda sentada debaixo da árvore, e ela estava sentada lá e estava inteiramente coberta com seus cabelos dourados até os pés.
Ele ficou parado e olhou para ela todo admirado, então, ele falou com ela e disse:
— “Quem é você? Porque você está sentada aí no deserto?” Mas ela não respondeu, porque ela não conseguia abrir a boca. O rei continuou,
— “Você irá para o castelo comigo?” Então, ela mexeu um pouco com a cabeça.
O rei a pegou nos braços, levou-a até o cavalo, e foi com ela para casa, e tendo chegado no castelo real, ele providenciou para que a vestissem com belos vestidos, e deu a ela todas as riquezas que ele tinha com abundância. Embora ela não pudesse falar, ela era, no entanto, tão bela e encantadora que ele começou a se apaixonar por ela de todo o coração, e pouco tempo depois ele se casou com ela.
Um ano ou mais havia se passado e a rainha ficou grávida e teve um filho. Então, a Virgem Maria apareceu para ela à noite, quando ela estava dormindo sozinha, e disse:
— “Se disseres a verdade e confessares que tu abriste a porta proibida, eu abrirei a tua boca, e tu voltarás a falar, mas se perseverares no pecado, e negares com obstinação, eu levarei o recém-nascido comigo.”
Então, foi permitido que a rainha respondesse, mas ela permaneceu inflexível e disse:
— “Não, eu não abri a porta proibida.” E a Virgem Maria pegou o recém-nascido dos seus braços, e foi embora com ele. Na manhã seguinte, quando a criança não havia sido encontrada, houve um boato entre as pessoas de que a rainha era uma devoradora de carne humana, e que tinha matado o próprio filho. Ela ouvia tudo isto e não podia dizer nada ao contrário, mas o rei não acreditou nessa história, porque ele a amava muito.
Um ano se passou e a rainha deu a luz a um menino, e a noite a Virgem Maria apareceu novamente para ela, e disse:
— “Se confessares que tu abriste a porta proibida, eu te darei o filho de volta e soltarei a tua língua, porém, se insistires no pecado e negares novamente, eu levarei comigo este menino também.”
Então, a rainha disse novamente,
— “Não, eu não abri a porta proibida,” e a Virgem levou a criança dos braços dela e foi para o céu com ela. Na manhã seguinte, após o desaparecimento desta criança, as pessoas diziam abertamente que a rainha havia devorado a criança, e os conselheiros do rei exigiam que ela fosse trazida à justiça. O rei, todavia, a amava tanto que ele não acreditava que isso fosse possível, e ordenou para que os conselheiros não falassem mais sobre este assunto sob pena de morte.
No ano seguinte a rainha deu à luz a uma bela menina, e pela terceira vez a Virgem Maria apareceu para ela, durante a noite, e disse:
— “Siga-me.” Ela pegou a rainha pela mão, e a levou para o céu, e mostrou para ela os seus dois filhos mais velhos, que sorriram para ela, e que estavam brincado com o globo terrestre.
A rainha alegrou-se com isto, e a Virgem Maria disse:
— “O teu coração não amoleceu ainda? Se admitires que abriste a porta proibida, eu te darei de volta os teus dois filhos” Mas pela terceira vez a rainha respondeu:
— “Não, eu não abri a porta probida.” Então, a Virgem fez com que ela descesse à Terra mais uma vez, e tomou dela também o seu terceiro filho.

Na manhã seguinte, quando o desaparecimento da menina corria por toda parte, as pessoas gritavam em voz alta,
— “A rainha come carne humana! Ela precisa ser julgada,” e o rei não conseguia mais controlar os seus conselheiros. Então, um tribunal foi formado, e como ela não podia responder, e nem se defender, ela foi condenada a ser queimada viva.
Quando toda a lenha havia sido juntada, e quando ela estava bem amarrada a um poste, e o fogo começou a queimar em volta dela, a pedra do seu orgulho se derreteu, o seu coração foi tomado de arrependimento, e ela pensou:
— “Se eu pudesse pelo menos confessar no momento da morte que eu abri a porta.” Então, ela conseguiu falar novamente, e gritou em voz alta:

— “Sim, Maria, fui eu que abri a porta”, e imediatamente a chuva caiu do céu e extinguiu todas as chamas do fogo, e uma luz se irradiou em cima da sua cabeça, e a Virgem Maria desceu com os dois filhos de lado e a filha recém nascida em seus braços. A Virgem Maria falava generosamente com ela, e disse: — “Aquela que se arrepende de seus pecados e reconhece os seus erros, merece ser perdoada.” Então, ela lhe devolveu as três crianças, soltou a língua dela, e de presente lhe deu a felicidade para toda a sua vida.

culpa

 Culpa

O que é culpa? Algo interno e inacessível, que ataca o sujeito.
A psicanalise assume o desafio de curar a culpa, pois a religião não conseguiu cumprir essa promessa, culpa esta criada por ela afim de demonstrar o poder da fé para cura-la.
Segundo Freud, as primeiras experiências do bebê-menino são de total disponibilidade da mãe para ele, a fim de satisfazer os seus desejos. Quando o bebe percebe que ela divide a atenção entre ele e o seu pai, sente raiva e imagina o afastamento ou a morte do pai para ter a mãe só para sí. Mas quando perceve a disparidade entre ele e o pai, o tamanho do pênis e a força de cada um, percebe a futilidade do seu desejo. E sua aflição piora com a angustia do pai descobrir o seu desejo e acabar com ele primeiro. A solução desses terrores vem com a consciência do amor do pai por ele e a internalização da proibição do desejo e o medo de punição decorrente da formação do superego (fronteira da culpa).
Freud conclui que esse psicodrama constitui a trajetória do desenvolvimento de todos e os resquícios de angustia, desejo e culpa, são levados adiante para a vida adulta.
Identificou a existência de algumas variedades de culpa:           
- A culpa meio pessoal e meio assumida
- A culpa em consequência do impulso para o ódio.
- A culpa ilimitada do complexo de Édipo não resolvido
- A ânsia do melancólico de que o desconhecimento vire culpa.


sexta-feira, 7 de agosto de 2015

TANV

TANV (Transtorno de aprendizagem não verbal)

Definição: É um transtorno neurocomportamental do desenvolvimento caracterizado por um déficit primário ao processamento da informação perceptual não-linguística. O déficit produz problemas na recepção, na decodificação de tal informação e pode também resultar em problemas na expressão. O diagnostico é efetuado se, e somente se, esse déficit produz concomitantes prejuízos sociais” (Palombo 2006)

É uma condição neurológica causada por lesão ou disfunção da substancia branca no hemisfério direito do cérebro, cujas conexões são importantes para a integração intermodal.

Características das disfunções:
- falha na coordenação grossa e fina
- dificuldade em equilíbrio
- dificuldade em habilidades grafomotoras
- falha na percepção espacial e nas relações espaciais
- memoria visual pobre
- falha na imaginação
- inabilidade para compreender comunicação não-verbal
- dificuldade frente a mudanças ou situações novas
- déficit no julgamento e na interação social
- são desajeitados
- tem um tempo de reação aumentada
- são mais lentos na aquisição de certas habilidades
- apresentam falhas no controle motor
- há desabilidade no uso de instrumentos como tesoura, pincel, etc
- podem não aprender a andar de bicicleta
- não se saem bem em esportes, ou brincadeiras como peteca, corda...
- não são hábeis em jogos de construção (lego)
- há dificuldade no reconhecimento facial de pessoas pouco familiares
- confundem-se com direções
- desorientam-se em locais amplos
- desorganizam-se no espaço gráfico
- preferem rotinas e imutabilidade no ambiente porque apoiam-se em referencias externas
- É comum serem: imaturos, ingênuos, ambíguos, opositores, com conceito baixo, negligentes com as questões dos outros, terem poucos ou nenhum amigo, serem isolados do grupo.
- Interagem melhor com adultos do que com pares
- Tem dificuldade em engajar-se na conversa do grupo por não compreenderem as questões, o tema, o interesse comum do grupo
- Podem apresentar comportamento inapropriado
- A atenção pode ser falha. Pode apresentar impulsividade e agitação motora
- A memoria de trabalho visual, memoria episódica e memoria implícita são alteradas
- Dificuldade para planejar, organizar, perceber o tempo, raciocínio fluido, raciocínio de causa e efeito, situações novas e resoluções de problemas
- Não completam atividades
- Não esperam sua vez
- Não focam o estimulo solicitado
- não seguem direções ou instruções
- Agem sem pensar
- Insistem numa mesma atividade ou brincadeira
- Tem dificuldade em parar um comportamento, necessitando de intervenção para isso
- Podem ficar olhando para a janela, com olhar apático
- Há grande impacto no rendimento escolar
- Usam palavras sem compreende-las
- Dificuldade para entender instruções
- Não compreender linguagem figurativa
- Há verbalização excessiva, com repetições
- Uso estereotipado de expressões
- Desabilidade na leitura de expressões faciais, gestos ou compreensão de tons de voz
- Precisam de ajuda para serem independentes
- A socialização é comprometida, precisando de treino constante e mediação de um adulto

Avaliação: Anamnese, Testes neuropsicológicos, Avaliação de aspectos psicoeducacionais, Avaliação de aspectos socioemocionais

Três sinais obrigatórios para diagnostico:
QIv > QIe
Dificuldade em matemática, melhores em leitura

Prejuízos sociais e cognitivos

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Homossexualidade e aceitação


Histórico da Homossexualidade
Homossexualidade: termo grego (homos=semelhante) criado em 1869 pelo medico húngaro Karoli M Kertbeny para designar todas as formas de amor carnal entre pessoas do mesmo sexo.
Na antiga Grécia a elite praticava a pederastia que era uma relação erótica entre um homem adulto e um rapaz. A relação sexual entre pessoas adultas do mesmo sexo era reprovada, pois havia a preocupação com a questão da passividade.
Com a emergência do cristianismo, a homossexualidade foi demonizada e transformada em pratica antinatural. Por contrariar as essências substanciais do que seriam ou deveriam ser as noções de masculino e feminino, e porque se opunha decisivamente a reprodução sexual e ao ideal monogâmico de família.
Durante muito tempo a homossexualidade foi vista como uma inversão sexual, isto é, uma anomalia psíquica, mental ou de natureza constitutiva e, como a expressão de um distúrbio de identidade ou da personalidade.
Apenas nos anos 70, com grandes movimentos de liberação sexual, a homossexualidade passou a ser vista não como doença, mas como pratica sexual.

Homossexualidade x Psicanalise
Freud não colocava a homossexualidade entre taras ou anomalias, e considerava todo sujeito capaz de fazer essa escolha, em função da universalidade da bissexualidade psíquica. Nunca abandonou a ideia de uma predisposição natural ou biológica e, mesmo tendo frequentemente mudado de opinião sobre essa questão, permaneceu convencido de que, tanto para um homem como para uma mulher, o fato de ser educado por mulheres, ou por uma única mulher, favorecia a homossexualidade.
Escreve em 1935: “A homossexualidade não é evidentemente uma vantagem, não é nem um vicio nem um aviltamento, eu seriamos incapazes de qualifica-la como doença; nós a consideramos como uma variação da função sexual provocada por uma interrupção do desenvolvimento sexual. Diversos indivíduos altamente respeitáveis, dos tempos antigos e modernos, foram homossexuais, e entre eles encontramos alguns dos homens mais grandiosos (Platão, Michelangelo, Leonardo da Vinci). É uma grande injustiça perseguir a homossexualidade como um crime, e também uma crueldade.”
Porem, em 1921 os discípulos de Freud se mostraram extremamente intolerantes e se recusaram a conceder aos homossexuais o direito de se tornarem psicanalistas. Ernest Jones disse que aos olhos do mundo, a homossexualidade “era um crime repugnante, se um de nossos membros o cometesse, cairíamos em um grave descredito”.
Otto Rank se opôs: “Não podemos afastas essas pessoas sem um motivo convincente, assim como não podemos aceitar que sejam perseguidos pela lei”. Anna Freud (suspeita de ser lesbica) sempre se mostrou contraria a realidade clinica, de que um tratamento bem-sucedido deve conduzir um homossexual para o caminho da heterossexualidade.
Para os Kleinianos, a homossexualidade se explicava ora por uma identificação com um pênis sádico, ora por um distúrbio esquizoide da personalidade, acompanhado ou não  de manifestação de defesa contra uma paranoia excessiva.
Apenas em 1964, Lacan possibilitou que homossexuais se tornassem analistas. Ele via a homossexualidade como uma perversão em si (estrutura da personalidade), não uma pratica sexual perversa, mas a manifestação de um desejo perverso, comum aos dois sexos. A perversão para Lacan é analisável, mas nunca curável.


(AUTO) Preconceito
Vencidos os embates externos contra preconceitos homofônicos e dogmáticos, o que dizer então dos inimigos internos?
Assumir a homossexualidade significa um reposicionamento na própria historia individual. A homofobia internalizada, denota de sofrimentos individuais que tem suas raízes na estrutura social do preconceito.
O sexo não nasce feito. Não se “nasce gay”. A singularidade homossexual, como toda e qualquer singularidade humana, demanda continua construção, desconstrução, reconstrução. Não se trata de lutar por uma identidade “ser idêntico a”, e seguir um modelo pre-estabelecido. E sim seguir a uma dolorosa liberdade de um continuo recriar, de responsabilizar-se por si mesmo, fazendo de si uma obra singular e única.
Muitos homossexuais mantem um preconceito com o odeio aos travestis, o desprezo aos sexualmente passivos e aos afeminados. Com o pensamento de “ser gay é possível, desde que sejam másculos e comportem-se bem”.
Não se trata de seguir um modelo grego antigo para ser aceito, mas sim de criar um modo de vida gay que admita a pluralidade, que se recrie continuamente. Isso é respeitar de verdade as diferenças.
Não há um caminho, uma resposta ou solução a problemática gay. Cada um deve encontrar por si mesmo.

Auto-aceitação
O que define um homossexual?
Não é só pelo fato de gostar de fazer sexo com uma pessoa do mesmo sexo.  Não é só uma vertente sexual. Não se reduz a genitália. O homossexual se APAIXONA por uma pessoa do mesmo sexo.
O ser humano tem necessidade de rotular para entender. Para que a necessidade de rotular?  Se é bissexual, homossexual ou heterossexual. O importante é viver quem vc é.  

“o previlegio de uma existência é ser quem vc é”. Campbell

Encarar com naturalidade. Ser homossexual não define ninguém. É mais uma característica, como a cor da pele, altura, etc... não é a única característica e nem a mais importante.

“Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo” Foucault.



Como lidar com a raiva e o perdão!

A demarcação do território: Os limites da raiva e do perdão
O urso da meia-lua
Era uma vez uma jovem mulher que vivia numa perfumada floresta de pinheiros. Seu marido esteve fora, lutando na guerra, muitos anos. Quando ele afinal foi liberado, voltou para casa com o pior dos humores. Ele se recusou a entrar na casa, pois havia se acostumado a dormir nas pedras. Ele só queria ficar só e permanecia na floresta tanto de dia quanto à noite.
A jovem esposa ficou tão feliz quando soube que o marido estava afinal voltando para casa. Ela cozinhou e fez compras, e fez compras e cozinhou. Preparou pratos e mais pratos, tigelas e mais tigelas, de delicioso queijo branco de soja, três tipos de peixe, três tipos de algas, arroz salpicado com pimenta vermelha e belos camarões fritos, grandes e alaranjados.
Com um tímido sorriso, ela levou os alimentos até o bosque e se ajoelhou ao lado do marido esgotado pela guerra, oferecendo-lhe a bela refeição que havia preparado. No entanto, ele se pôs de pé e chutou as travessas de modo que o queijo de soja caiu, os peixes saltaram no ar, as algas e o arroz caíram na terra e os grandes camarões alaranjados rolaram pelo caminho abaixo.
— Deixe-me em paz! — rugiu ele, voltando-lhe as costas. Ele estava tão furioso que ela sentiu medo. E afinal, em desespero, ela foi procurar a gruta da curandeira que morava fora da aldeia.
— Meu marido foi ferido gravemente na guerra — disse a esposa. — Ele sofre de uma raiva permanente e não come nada. Só quer ficar ao ar livre e não se dispõe a voltar a viver comigo. A senhora não pode me dar uma poção que faça com que ele volte a ser carinhoso e gentil?
— Isso eu posso fazer por você — disse a curandeira. — Mas vou precisar de um ingrediente especial. Infelizmente, acabou todo meu pêlo de urso de meia-lua. Por isso, você deve subir a montanha, encontrar o urso negro e me trazer um único pêlo da meia-lua que ele tem no pescoço. Depois, eu lhe darei o que você precisa, e a vida voltará a ser boa.
Algumas mulheres teriam se sentido desencorajadas com essa tarefa. Algumas teriam considerado que todo esse esforço era impossível. Mas não ela, pois ela era uma mulher que amava.
— Ah! Como lhe sou grata! É tão bom saber que existe uma solução.
E assim ela se preparou para a viagem e na manhã seguinte partiu para a
montanha.
Arigato zaishö — dizia ela, o que é uma forma de cumprimentar a montanha e lhe dizer "Obrigada por me deixar escalar seu corpo".
Ela se embrenhou nos contrafortes, onde havia rochas semelhantes a grandes pães de forma. Subiu até um platô coberto de mata. As árvores tinham galhos longos e caídos e folhas que se pareciam com estrelas.
Arigato zaishö — entoou. Era uma forma de agradecer as árvores por
erguerem seus cabelos para que ela pudesse passar por baixo. E assim ela conseguiu atravessar a floresta e começou a subir de novo.
Agora estava mais difícil. A montanha tinha flores espinhosas que se prendiam na barra do seu quimono e rochas que arranhavam suas mãos delicadas. Estranhos pássaros escuros saíram voando na sua direção no crepúsculo, deixando-a assustada.
Subiu até ver neve no pico da montanha. Logo seus pés estavam frios e molhados, e ela continuava a escalar, pois era uma mulher que amava. Começou uma tempestade, e a neve penetrava direto nos seus olhos e fundo nas suas orelhas. Mesmo sem ver, ela continuava a subir.
Arigato zaishö — cantou a mulher quando a nevasca parou, para agradecer aos ventos por terem parado de cegá-la. Ela procurou abrigo numa caverna rasa e mal conseguiu lugar para seu corpo inteiro. Embora tivesse uma bolsa cheia de alimentos, ela não comeu, mas se cobriu com folhas e adormeceu. Pela manhã, o ar estava calmo e plantinhas verdes chegavam a atravessar a neve aqui e acolá.
— Ah — pensou ela. — Agora, ao urso da meia-lua.
Ela procurou o dia inteiro e quase ao anoitecer foi quando ela não precisou procurar mais, pois um gigantesco urso negro passou pesadamente pela neve, deixando profundas marcas de patas e garras. O urso da meia-lua deu um rugido feroz e entrou na sua toca. A mulher enfiou a mão na trouxa e colocou numa tigela a comida que trouxera. Ela colocou a tigela do lado de fora da toca e voltou correndo para o seu esconderijo. O urso sentiu o cheiro da comida e saiu cambaleando da toca, rugindo tão alto que pequenas pedras se soltaram do lugar. O urso fez um círculo em volta da comida de uma certa distância, farejou o vento muitas vezes e depois comeu tudo de uma só vez. O enorme urso foi andando de ré e sumiu dentro da sua toca.
Na noite seguinte, a mulher agiu da mesma forma, servindo o alimento na
tigela, mas dessa vez não voltou para seu esconderijo, recuando apenas metade do caminho. O urso sentiu o cheiro da comida, saiu pesadamente da toca, rugiu , deu uma volta, farejou o ar com extremo cuidado, mas
afinal engoliu a comida e voltou para a toca. Isso continuou por muitas noites até que numa noite escura a mulher sentiu ter coragem suficiente para esperar ainda mais perto da toca do urso.
Ela pôs a comida na tigela do lado de fora da toca e ficou esperando junto à abertura. Quando o urso sentiu o cheiro e saiu, ele viu não só a comida, mas também um par de pequenos pés humanos. O urso virou a cabeça de lado e rugiu tão alto que fez os ossos do corpo da mulher zumbirem.
A mulher tremia, mas não recuava. O urso se ergueu nas patas traseiras,
estalou as mandíbulas e rugiu tanto que a mulher pôde ver bem o céu vermelho e marrom da sua boca. Mesmo assim, ela não saiu correndo. O urso rugiu ainda mais e estendeu seus braços como se quisesse agarrá-la, com suas dez garras suspensas como dez facas sobre sua cabeça. A mulher tremia como uma folha ao vento, mas permaneceu onde estava.
— Por favor, meu querido urso — implorou ela. — Por favor, vim toda essa
distância em busca de uma cura para meu marido. — O urso voltou as patas dianteiras para a terra fazendo voar a neve e olhou direto no rosto assustado da mulher. Por um instante, ela teve a impressão de ver cordilheiras inteiras, vales, rios e aldeias refletidos nos olhos vermelhíssimos do urso. Uma paz profunda caiu sobre ela, e seus tremores passaram.
— Por favor, urso querido, eu venho lhe trazendo alimento todas essas noites.
Será que eu podia ficar com um dos pêlos da meia-lua do seu pescoço? — O urso parou e pensou, essa mulherzinha seria fácil de devorar. No entanto, ele de repente se sentiu cheio de pena dela.
— É verdade — disse o urso da meia-lua, sem afastar as garras da sua cabeça. —Você foi boa para mim. Pode ficar com um dos meus pêlos. Mas arranque-o rápido, vá embora e volte para sua gente.
O urso ergueu seu enorme focinho para que aparecesse a meia-lua branca do seu pescoço, e a mulher viu ali a forte pulsação do seu coração. A mulher pôs uma das mãos no pescoço do urso, e com a outra segurou um único pêlo branco e lustroso. Rapidamente ela o arrancou. O urso recuou e gritou como se estivesse ferido.
— Ah, obrigada, urso da meia-lua, muitíssimo obrigada. — A mulher se
inclinou em reverência e voltou a se inclinar. Mas o urso rosnou e avançou um passo. Ele rugiu para a mulher com palavras que ela não entendia e, no entanto, palavras que de algum modo havia conhecido toda a vida. Ela se voltou e correu montanha abaixo com a maior velocidade possível. Ela passou correndo debaixo das árvores de folhas com formato de estrelas. E o tempo todo ela agradecia às árvores por erguerem os galhos para ela passar. Ela veio tropeçando pelas pedras que pareciam grandes
pães de forma, sempre agradecendo à montanha por deixar que ela escalasse seu corpo. Embora suas roupas estivessem esfarrapadas, seu cabelo desalinhado, seu rosto sujo, ela desceu a escada de pedra que levava até a aldeia, seguiu pela estrada de terra atravessando a cidade até o outro lado e entrou na cabana onde a curandeira estava sentada cuidando do fogo.
— Olhe! Olhe! Consegui, encontrei, conquistei um pêlo do urso da meia-lua! —gritou a jovem mulher.
— Que bom — disse a curandeira com um sorriso. Ela examinou a mulher
atentamente, pegou o pêlo branco puríssimo e o segurou perto da luz e exclamou: — É !
Este é um autêntico pêlo do urso da meia-lua. — De repente, porém, ela se voltou e lançou o pêlo no meio do fogo, onde ele estalou, pipocou e se consumiu numa bela chama laranja.
— Não — gritou a mulher. — O que a senhora fez?
— Fique calma. Está certo. Tudo está bem — disse a curandeira. — Você se
lembra de cada passo que deu para escalar a montanha? Você se lembra de cada passo que deu para conquistar a confiança do urso da meia-lua? Você se lembra do que viu, do que ouviu e do que sentiu?
— Lembro — disse a mulher. — Lembro-me muito bem.
— Então, minha filha — disse a velha curandeira com um sorriso meigo —,

volte por favor para casa com seus novos conhecimentos e proceda da mesma forma com seu marido.

Os limites da raiva e do perdão
Quando a fúria na mulher acontece, a liberação é obrigatória. Mas queremos nos apressar a nos livrarmos dela. Reprimir não funciona. (ex. lixo toxico)
A paciência e a dedicação em busca da cura, ajudam a aliviar a raiva. O texto ensina como  a mulher deve fazer para restaurar a psique e curar o self enfurecido.
Curandeira= procura de uma força restauradora calma e sabia
Escalar a montanha= Aceitar o desafio de entrar num terreno psíquico desconhecido
Rochas e arvores= reconhecimento das ilusões
Muen-botoke espíritos inquietos sem parentes para enterra-los = descanso a velhos sentimentos e pensamentos obsessivos. São ideias, pensamentos e palavras criativas da vida da mulher que sofreram morte prematura e que contribuem para sua raiva.
Alimentar o urso= agrado ao self compassivo
Agressividade do urso = compreender o lado furioso da psique compassiva.
Descer a montanha = trazer o conhecimento ate a vida real
Destruir o pêlo = aprender que a cura reside na busca e na pratica
Conselho da curandeira = aplique tudo a sua raiva e ficará tudo bem.
Esposa = espirito amoroso da psique        
Curandeira= nosso self sábio, recurso para ver além da irritação.
Montanha = símbolo para descrever níveis de autocontrole que devemos atingir antes de podemos passar para o nível seguinte.
Lado positivo da raiva – É uma energia e podemos usa-la para iluminar lugares que não vemos. É uma emoção, possui conhecimento, pode nos ensinar a identificar algo a ser tratado internamente e depois ser transformado em algo útil (criatividade) ou algo para deixarmos morrer.  O ciclo da raiva é subir, cair, morrer e ser liberada como uma energia nova.
Lado negativo da raiva – concentra-la destrutivamente num único ponto até que perfure todas as camadas delicadas da psique (ex. corroendo como acido)
A raiva corrói nossa confiança de que algo bom possa acontecer. Por traz da falta de esperança esta a raiva, por trás da raiva a dor, por traz da dor algum tipo de tortura ou ruptura. Precisamos compreender o fato gerador e o que podemos fazer com isso.  Dar um passo de cada vez.
A curandeira faz parte na psique da mulher, se a tivermos perdido, podemos invoca-la novamente ao examinar com calma a situação que provoca nossa raiva, projetando-nos para o futuro para decidir, o que nos deixaria orgulhosa do nosso comportamento passado, e depois agimos de acordo com isso.
A indignação ou irritação que sentimos pode ser exacerbada quando houve repetidas ocorrências de desrespeito, perseguição, negligencia ou insegurança na infância. A pessoa fica sensibilizada para futuros traumas e utiliza todas as defesas para evita-los. Significativas perdas do poder da certeza de que somos dignos de cuidado, respeito e atenção, geram tristeza e juramentos irados por parte da criança, de que quando adulta, ela nunca mais se permitirá ser ferida daquela forma. Podemos chegar bem perto de um trauma da infância ao examinar o que faz com que o adulto perca o controle.  
Quando a montanha permite a passagem da mulher e as arvores erguem seus galhos para ela passar, simboliza a dispersão das ilusões. Enxergar as coisas como elas são, fortalece a pessoa dos acontecimentos, dos seres e das coisas, e faz com que ela aprenda a não levar tão a serio a primeira impressão, mas a sempre procurar mais fundo.
Urso = ressurreição. (hibernação – acordar para a vida – ciclos)
O pelo do pescoço do urso é um talismã, um lembrete do que se aprendeu.
A iluminação não ocorre na montanha e sim na incineração do pelo, onde a projeção de uma cura magica se desfaz. Não é algo material que de repente tornará tudo perfeito. Podemos deter todo o conhecimento, mas sem a pratica, ele não vale de nada.
Quando a raiva surge, devemos aguardar, soltar as ilusões, entender e conversar com ela. Precisamos ter paciência, ser gentil com o ser furioso.
Se isso ocorrer, a mulher volta a vida cotidiana com novos conhecimentos, com um novo sentido de poder viver sua vida.
A raiva residual de antigas feridas são iguais ferimentos por estilhaços, os caquinhos menores permanecem. E esses caquinhos se torcem e retorcem , causando dor semelhante a do ferimento original.
A raiva não é como um calculo renal, que se esperarmos um tempo suficiente, a dor passa. Não é possível fugir da nossa historia. Precisamos parar , recuar e procurar a solidão. É demais tentar lutar e lidar ao mesmo tempo com a sensação de que foi atingido nas vísceras. Precisa se livrar da ilusão de que o presente é uma representação exata e calculada do passado.
Existem ocasiões em que é necessário liberar a raiva. Quando a mulher presta atenção no self instintivo, ela saberá a hora certa.
Para poder usar a sua intuição, a mulher precisa se manter aberta a todas as coisas, e essa abertura a deixa vulnerável (sem limites). Ela pode usar sua raiva para criticar, usar sua frieza para anestesiar, dizer doces palavras quando quer punir, etc. A forma como trata os outros, evidencia como esta sofrendo uma agressão violenta dentro da sua própria psique.
A mulher que levou uma vida torturante, tem uma profundidade incalculável.
Há momentos em nossa vida que precisamos tomar decisões a respeito de nos tornarmos amargas ou não. (sonhos jogados fora, corações partidos, casamentos desfeitos, promessas esquecidas). Todas essas mortes são processos de descansos.
Criar descansos significa examinar sua vida e marcar os pontos em que ocorreram essas mortes. (em um papel, assinalar com uma cruz, as ocasiões que decidiu não tomar um caminho, caminhos que foram obstruídos). Onde estão as cruzes? Onde estão os pontos que precisam ser lembrados? Leva tempo e exige paciência.
Negar a dor e a raiva não resolve. A raiva pode fazer com que a mulher não se livre de acontecimentos passados, repisar traumas por um certo tempo é importante para a cura. Todo sofrimento acaba sendo suturado, mas pode acontecer com a formação de cicatrizes.
A raiva coletiva pode ser bem utilizada como motivação para procurar ou oferecer apoio, para imaginar meios de forçar grupos ou indivíduos a um dialogo (manifestações)
Quando a mulher não consegue se livrar da raiva é porque muitas vezes, ela esta usando isso para ganhar forças. A raiva é um fogo que queima a sua própria energia vital. É como tentar levar uma vida equilibrada com o pé no acelerador.
Carregar a raiva antiga além do ponto da sua utilidade, é carregar uma ansiedade constante. Estar cansada o tempo todo, ser cínica, destruir a esperança, frustrar o novo, o promissor.
Na nossa cultura achamos que o perdão precisa ser absoluto, é fechar os olhos e fingir que nada acontece. Mas não é assim, não é tudo ou nada. O perdão tem muitas camadas. O perdão consiste em começar e persistir. Precisamos nos dispor da cura e termos a paciência para acompanhar o processo.
Os quatro estágios do perdão
1)      Deixar passar
É bom deixar passar algum tempo, deixar de pensar provisoriamente na pessoa ou acontecimento. Tirar umas férias do assunto. Não é fechar os olhos, mas adquirir agilidade e força para se desligar da questão. Deixar passar é voltar a fazer o que gosta, escrever, ir até o mar, etc. Deixar que o tema saia do primeiro plano.
2)      Controlar-se
Parar de punir, não reagir ao fato. A pessoa não deve ficar cega ou perder a sua vigilância protetora. É ter paciência, resistir, canalizar a emoção. É um regime de purificação. Parar de falar sobre o assunto, resmungos punitivos, agir com hostilidade. Ao evitar punições desnecessárias, estará reforçando a integridade da alma e da ação. Controlar-se é praticar a generosidade.
3)      Esquecer
Afastar da lembrança, recusar-se a repisar um assunto, deixar de lado, soltar. Esquecer é uma atividade e não uma atitude passiva. Significa não trazer o material até a superfície, nem revira-los constantemente, nem se irritar com pensamentos, imagens ou emoções repetitivas. Criar vida e experiências novas em que pensar no lugar das antigas. Esse tipo de esquecimento não apaga as memorias, apenas enterra as emoções que a cercam.
4)      Perdoar
É a pessoa que decide quando perdoar, quando a divida não precisa mais ser paga. É deixar de excluir o outro. O perdão é um ato de criação. Pode perdoar por enquanto, perdoar até que, perdoar mas não dar outra chance ou dar muitas chances. Pode perdoar em parte, pela metade ou totalmente.
Como saber que perdoou? Passa a sentir tristeza a respeito da circunstancia, em vez de raiva. Passa a sentir pena da pessoa ao invés de irritação. Compreende o sofrimento que provocou a ofensa.