Sem dúvida essa crise é assustadora e ninguém gostaria de
estar passando por isso. Mas não temos escolha. E entender o que estamos
sentindo e o que podemos aprender com tudo isso, faz com que esse momento seja
também de aprendizado.
Tememos o abandono desde que nascemos. É o primeiro medo
conhecido. A solitude é muito bem vinda e até mesmo almejada por alguns, mas
quando esse estado sozinho deixa de ser escolha e passa a ser obrigação, pode
ser assustador, causando sérios danos a nossa saúde emocional. A existência é
relacional, somos dependentes dos outros para nos reconhecermos. Ainda não sabemos olhar para o “espelho” e ver quem somos sem depender do olhar do outro.
Além disso, tememos pela nossa saúde e pela sociedade em geral. Percebemos
que a saúde não é negociável e que o adoecimento faz reconhecermos nossos
limites e o quanto não somos onipotentes.
Também tememos pela nossa vida financeira e pela situação econômica
mundial.
E além dos medos conhecidos, sentimos angústia. A primeira
defesa do ser humano é tentar acabar com ela, principalmente através de medicação.
Mas devemos não recuar, não anestesiar, procurar entender que angustia é essa,
fazer perguntas e ouvir as respostas... A angustia é o único afeto que não
mente. Onde ela aparece é onde tem uma vontade invertida do desejo real. E é preciso entender que desejo é esse.
Não estou me referindo a demandas. Demandas temos muitas.
Necessidades também. O tempo todo. Mas o desejo é aquele que aparece através da
falta. Precisamos dar espaço para isso. Sem querer preencher o tempo e o
pensamento exaustivamente. É preciso deixar a falta existir e ouvir o vazio.
Não precisamos temer. É uma oportunidade para aprender sobre nós mesmos e sobre
a nossa verdade, verdade essa que custa tanto a aparecer nos momentos
cotidianos.
O isolamento gera uma inquietude natural. Instintivamente, não
fomos feitos para ficar enclausurados, isso causa irritabilidade. Ajuda muito
entender que o isolamento é um ato de generosidade comigo, com quem amo e com a
sociedade em geral. Esse entendimento protege de pensamentos negativos.
O relacionamento com as pessoas que convivemos é um desafio.
Os incômodos que já existiam ficam mais evidentes. Devemos concentrar no que
importa, que é passar por essa fase. Não dar tanta importância para as pequenas
coisas, estão todos apreensivos, devemos aprimorar o diálogo e a paciência. Os
relacionamentos doentes podem se acabar de fato ou virem a se curar. Depende de
como iremos trata-los agora.
A indefinição é difícil. Não sabemos até quando o isolamento
será necessário. As informações são contraditórias.
O principal recurso é manter uma rotina. É a nossa estrutura.
Mantê-la, diminuirá a ansiedade e nos deixará em contato com o mundo externo.
Procure registrar os sentimentos. Fale, escreva, pinte,
desenhe. Represente a história desse momento que esta passando.
Se aproxime das pessoas queridas que antes você não tinha
tanto tempo: O afeto não precisa ser apenas físico e estamos aprendendo isso na
prática.
Se conecte com atividades criativas, Jogos, arte de qualquer
tipo, culinária... produza e deixe fluir a criatividade. Ela será muito útil para
agora e para depois.
Alimente sua existência. Fortifique seus vínculos intelectuais,
religiosos, filosóficos, etc... É um momento de cuidar de si. A transformação é
certa. A evolução é uma escolha.
É uma oportunidade de reposicionamento da vida, de cada um
descobrir o que é realmente importante para sí. Vivemos num mundo dual,
compensatório. Nossa existência é pendular e oscila entre um ponto de equilíbrio.
Hoje é assim, amanhã não será mais. O desespero é inútil. Tudo passará.
Yona Sousa