sexta-feira, 5 de junho de 2015

Homossexualidade e aceitação


Histórico da Homossexualidade
Homossexualidade: termo grego (homos=semelhante) criado em 1869 pelo medico húngaro Karoli M Kertbeny para designar todas as formas de amor carnal entre pessoas do mesmo sexo.
Na antiga Grécia a elite praticava a pederastia que era uma relação erótica entre um homem adulto e um rapaz. A relação sexual entre pessoas adultas do mesmo sexo era reprovada, pois havia a preocupação com a questão da passividade.
Com a emergência do cristianismo, a homossexualidade foi demonizada e transformada em pratica antinatural. Por contrariar as essências substanciais do que seriam ou deveriam ser as noções de masculino e feminino, e porque se opunha decisivamente a reprodução sexual e ao ideal monogâmico de família.
Durante muito tempo a homossexualidade foi vista como uma inversão sexual, isto é, uma anomalia psíquica, mental ou de natureza constitutiva e, como a expressão de um distúrbio de identidade ou da personalidade.
Apenas nos anos 70, com grandes movimentos de liberação sexual, a homossexualidade passou a ser vista não como doença, mas como pratica sexual.

Homossexualidade x Psicanalise
Freud não colocava a homossexualidade entre taras ou anomalias, e considerava todo sujeito capaz de fazer essa escolha, em função da universalidade da bissexualidade psíquica. Nunca abandonou a ideia de uma predisposição natural ou biológica e, mesmo tendo frequentemente mudado de opinião sobre essa questão, permaneceu convencido de que, tanto para um homem como para uma mulher, o fato de ser educado por mulheres, ou por uma única mulher, favorecia a homossexualidade.
Escreve em 1935: “A homossexualidade não é evidentemente uma vantagem, não é nem um vicio nem um aviltamento, eu seriamos incapazes de qualifica-la como doença; nós a consideramos como uma variação da função sexual provocada por uma interrupção do desenvolvimento sexual. Diversos indivíduos altamente respeitáveis, dos tempos antigos e modernos, foram homossexuais, e entre eles encontramos alguns dos homens mais grandiosos (Platão, Michelangelo, Leonardo da Vinci). É uma grande injustiça perseguir a homossexualidade como um crime, e também uma crueldade.”
Porem, em 1921 os discípulos de Freud se mostraram extremamente intolerantes e se recusaram a conceder aos homossexuais o direito de se tornarem psicanalistas. Ernest Jones disse que aos olhos do mundo, a homossexualidade “era um crime repugnante, se um de nossos membros o cometesse, cairíamos em um grave descredito”.
Otto Rank se opôs: “Não podemos afastas essas pessoas sem um motivo convincente, assim como não podemos aceitar que sejam perseguidos pela lei”. Anna Freud (suspeita de ser lesbica) sempre se mostrou contraria a realidade clinica, de que um tratamento bem-sucedido deve conduzir um homossexual para o caminho da heterossexualidade.
Para os Kleinianos, a homossexualidade se explicava ora por uma identificação com um pênis sádico, ora por um distúrbio esquizoide da personalidade, acompanhado ou não  de manifestação de defesa contra uma paranoia excessiva.
Apenas em 1964, Lacan possibilitou que homossexuais se tornassem analistas. Ele via a homossexualidade como uma perversão em si (estrutura da personalidade), não uma pratica sexual perversa, mas a manifestação de um desejo perverso, comum aos dois sexos. A perversão para Lacan é analisável, mas nunca curável.


(AUTO) Preconceito
Vencidos os embates externos contra preconceitos homofônicos e dogmáticos, o que dizer então dos inimigos internos?
Assumir a homossexualidade significa um reposicionamento na própria historia individual. A homofobia internalizada, denota de sofrimentos individuais que tem suas raízes na estrutura social do preconceito.
O sexo não nasce feito. Não se “nasce gay”. A singularidade homossexual, como toda e qualquer singularidade humana, demanda continua construção, desconstrução, reconstrução. Não se trata de lutar por uma identidade “ser idêntico a”, e seguir um modelo pre-estabelecido. E sim seguir a uma dolorosa liberdade de um continuo recriar, de responsabilizar-se por si mesmo, fazendo de si uma obra singular e única.
Muitos homossexuais mantem um preconceito com o odeio aos travestis, o desprezo aos sexualmente passivos e aos afeminados. Com o pensamento de “ser gay é possível, desde que sejam másculos e comportem-se bem”.
Não se trata de seguir um modelo grego antigo para ser aceito, mas sim de criar um modo de vida gay que admita a pluralidade, que se recrie continuamente. Isso é respeitar de verdade as diferenças.
Não há um caminho, uma resposta ou solução a problemática gay. Cada um deve encontrar por si mesmo.

Auto-aceitação
O que define um homossexual?
Não é só pelo fato de gostar de fazer sexo com uma pessoa do mesmo sexo.  Não é só uma vertente sexual. Não se reduz a genitália. O homossexual se APAIXONA por uma pessoa do mesmo sexo.
O ser humano tem necessidade de rotular para entender. Para que a necessidade de rotular?  Se é bissexual, homossexual ou heterossexual. O importante é viver quem vc é.  

“o previlegio de uma existência é ser quem vc é”. Campbell

Encarar com naturalidade. Ser homossexual não define ninguém. É mais uma característica, como a cor da pele, altura, etc... não é a única característica e nem a mais importante.

“Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo” Foucault.



Como lidar com a raiva e o perdão!

A demarcação do território: Os limites da raiva e do perdão
O urso da meia-lua
Era uma vez uma jovem mulher que vivia numa perfumada floresta de pinheiros. Seu marido esteve fora, lutando na guerra, muitos anos. Quando ele afinal foi liberado, voltou para casa com o pior dos humores. Ele se recusou a entrar na casa, pois havia se acostumado a dormir nas pedras. Ele só queria ficar só e permanecia na floresta tanto de dia quanto à noite.
A jovem esposa ficou tão feliz quando soube que o marido estava afinal voltando para casa. Ela cozinhou e fez compras, e fez compras e cozinhou. Preparou pratos e mais pratos, tigelas e mais tigelas, de delicioso queijo branco de soja, três tipos de peixe, três tipos de algas, arroz salpicado com pimenta vermelha e belos camarões fritos, grandes e alaranjados.
Com um tímido sorriso, ela levou os alimentos até o bosque e se ajoelhou ao lado do marido esgotado pela guerra, oferecendo-lhe a bela refeição que havia preparado. No entanto, ele se pôs de pé e chutou as travessas de modo que o queijo de soja caiu, os peixes saltaram no ar, as algas e o arroz caíram na terra e os grandes camarões alaranjados rolaram pelo caminho abaixo.
— Deixe-me em paz! — rugiu ele, voltando-lhe as costas. Ele estava tão furioso que ela sentiu medo. E afinal, em desespero, ela foi procurar a gruta da curandeira que morava fora da aldeia.
— Meu marido foi ferido gravemente na guerra — disse a esposa. — Ele sofre de uma raiva permanente e não come nada. Só quer ficar ao ar livre e não se dispõe a voltar a viver comigo. A senhora não pode me dar uma poção que faça com que ele volte a ser carinhoso e gentil?
— Isso eu posso fazer por você — disse a curandeira. — Mas vou precisar de um ingrediente especial. Infelizmente, acabou todo meu pêlo de urso de meia-lua. Por isso, você deve subir a montanha, encontrar o urso negro e me trazer um único pêlo da meia-lua que ele tem no pescoço. Depois, eu lhe darei o que você precisa, e a vida voltará a ser boa.
Algumas mulheres teriam se sentido desencorajadas com essa tarefa. Algumas teriam considerado que todo esse esforço era impossível. Mas não ela, pois ela era uma mulher que amava.
— Ah! Como lhe sou grata! É tão bom saber que existe uma solução.
E assim ela se preparou para a viagem e na manhã seguinte partiu para a
montanha.
Arigato zaishö — dizia ela, o que é uma forma de cumprimentar a montanha e lhe dizer "Obrigada por me deixar escalar seu corpo".
Ela se embrenhou nos contrafortes, onde havia rochas semelhantes a grandes pães de forma. Subiu até um platô coberto de mata. As árvores tinham galhos longos e caídos e folhas que se pareciam com estrelas.
Arigato zaishö — entoou. Era uma forma de agradecer as árvores por
erguerem seus cabelos para que ela pudesse passar por baixo. E assim ela conseguiu atravessar a floresta e começou a subir de novo.
Agora estava mais difícil. A montanha tinha flores espinhosas que se prendiam na barra do seu quimono e rochas que arranhavam suas mãos delicadas. Estranhos pássaros escuros saíram voando na sua direção no crepúsculo, deixando-a assustada.
Subiu até ver neve no pico da montanha. Logo seus pés estavam frios e molhados, e ela continuava a escalar, pois era uma mulher que amava. Começou uma tempestade, e a neve penetrava direto nos seus olhos e fundo nas suas orelhas. Mesmo sem ver, ela continuava a subir.
Arigato zaishö — cantou a mulher quando a nevasca parou, para agradecer aos ventos por terem parado de cegá-la. Ela procurou abrigo numa caverna rasa e mal conseguiu lugar para seu corpo inteiro. Embora tivesse uma bolsa cheia de alimentos, ela não comeu, mas se cobriu com folhas e adormeceu. Pela manhã, o ar estava calmo e plantinhas verdes chegavam a atravessar a neve aqui e acolá.
— Ah — pensou ela. — Agora, ao urso da meia-lua.
Ela procurou o dia inteiro e quase ao anoitecer foi quando ela não precisou procurar mais, pois um gigantesco urso negro passou pesadamente pela neve, deixando profundas marcas de patas e garras. O urso da meia-lua deu um rugido feroz e entrou na sua toca. A mulher enfiou a mão na trouxa e colocou numa tigela a comida que trouxera. Ela colocou a tigela do lado de fora da toca e voltou correndo para o seu esconderijo. O urso sentiu o cheiro da comida e saiu cambaleando da toca, rugindo tão alto que pequenas pedras se soltaram do lugar. O urso fez um círculo em volta da comida de uma certa distância, farejou o vento muitas vezes e depois comeu tudo de uma só vez. O enorme urso foi andando de ré e sumiu dentro da sua toca.
Na noite seguinte, a mulher agiu da mesma forma, servindo o alimento na
tigela, mas dessa vez não voltou para seu esconderijo, recuando apenas metade do caminho. O urso sentiu o cheiro da comida, saiu pesadamente da toca, rugiu , deu uma volta, farejou o ar com extremo cuidado, mas
afinal engoliu a comida e voltou para a toca. Isso continuou por muitas noites até que numa noite escura a mulher sentiu ter coragem suficiente para esperar ainda mais perto da toca do urso.
Ela pôs a comida na tigela do lado de fora da toca e ficou esperando junto à abertura. Quando o urso sentiu o cheiro e saiu, ele viu não só a comida, mas também um par de pequenos pés humanos. O urso virou a cabeça de lado e rugiu tão alto que fez os ossos do corpo da mulher zumbirem.
A mulher tremia, mas não recuava. O urso se ergueu nas patas traseiras,
estalou as mandíbulas e rugiu tanto que a mulher pôde ver bem o céu vermelho e marrom da sua boca. Mesmo assim, ela não saiu correndo. O urso rugiu ainda mais e estendeu seus braços como se quisesse agarrá-la, com suas dez garras suspensas como dez facas sobre sua cabeça. A mulher tremia como uma folha ao vento, mas permaneceu onde estava.
— Por favor, meu querido urso — implorou ela. — Por favor, vim toda essa
distância em busca de uma cura para meu marido. — O urso voltou as patas dianteiras para a terra fazendo voar a neve e olhou direto no rosto assustado da mulher. Por um instante, ela teve a impressão de ver cordilheiras inteiras, vales, rios e aldeias refletidos nos olhos vermelhíssimos do urso. Uma paz profunda caiu sobre ela, e seus tremores passaram.
— Por favor, urso querido, eu venho lhe trazendo alimento todas essas noites.
Será que eu podia ficar com um dos pêlos da meia-lua do seu pescoço? — O urso parou e pensou, essa mulherzinha seria fácil de devorar. No entanto, ele de repente se sentiu cheio de pena dela.
— É verdade — disse o urso da meia-lua, sem afastar as garras da sua cabeça. —Você foi boa para mim. Pode ficar com um dos meus pêlos. Mas arranque-o rápido, vá embora e volte para sua gente.
O urso ergueu seu enorme focinho para que aparecesse a meia-lua branca do seu pescoço, e a mulher viu ali a forte pulsação do seu coração. A mulher pôs uma das mãos no pescoço do urso, e com a outra segurou um único pêlo branco e lustroso. Rapidamente ela o arrancou. O urso recuou e gritou como se estivesse ferido.
— Ah, obrigada, urso da meia-lua, muitíssimo obrigada. — A mulher se
inclinou em reverência e voltou a se inclinar. Mas o urso rosnou e avançou um passo. Ele rugiu para a mulher com palavras que ela não entendia e, no entanto, palavras que de algum modo havia conhecido toda a vida. Ela se voltou e correu montanha abaixo com a maior velocidade possível. Ela passou correndo debaixo das árvores de folhas com formato de estrelas. E o tempo todo ela agradecia às árvores por erguerem os galhos para ela passar. Ela veio tropeçando pelas pedras que pareciam grandes
pães de forma, sempre agradecendo à montanha por deixar que ela escalasse seu corpo. Embora suas roupas estivessem esfarrapadas, seu cabelo desalinhado, seu rosto sujo, ela desceu a escada de pedra que levava até a aldeia, seguiu pela estrada de terra atravessando a cidade até o outro lado e entrou na cabana onde a curandeira estava sentada cuidando do fogo.
— Olhe! Olhe! Consegui, encontrei, conquistei um pêlo do urso da meia-lua! —gritou a jovem mulher.
— Que bom — disse a curandeira com um sorriso. Ela examinou a mulher
atentamente, pegou o pêlo branco puríssimo e o segurou perto da luz e exclamou: — É !
Este é um autêntico pêlo do urso da meia-lua. — De repente, porém, ela se voltou e lançou o pêlo no meio do fogo, onde ele estalou, pipocou e se consumiu numa bela chama laranja.
— Não — gritou a mulher. — O que a senhora fez?
— Fique calma. Está certo. Tudo está bem — disse a curandeira. — Você se
lembra de cada passo que deu para escalar a montanha? Você se lembra de cada passo que deu para conquistar a confiança do urso da meia-lua? Você se lembra do que viu, do que ouviu e do que sentiu?
— Lembro — disse a mulher. — Lembro-me muito bem.
— Então, minha filha — disse a velha curandeira com um sorriso meigo —,

volte por favor para casa com seus novos conhecimentos e proceda da mesma forma com seu marido.

Os limites da raiva e do perdão
Quando a fúria na mulher acontece, a liberação é obrigatória. Mas queremos nos apressar a nos livrarmos dela. Reprimir não funciona. (ex. lixo toxico)
A paciência e a dedicação em busca da cura, ajudam a aliviar a raiva. O texto ensina como  a mulher deve fazer para restaurar a psique e curar o self enfurecido.
Curandeira= procura de uma força restauradora calma e sabia
Escalar a montanha= Aceitar o desafio de entrar num terreno psíquico desconhecido
Rochas e arvores= reconhecimento das ilusões
Muen-botoke espíritos inquietos sem parentes para enterra-los = descanso a velhos sentimentos e pensamentos obsessivos. São ideias, pensamentos e palavras criativas da vida da mulher que sofreram morte prematura e que contribuem para sua raiva.
Alimentar o urso= agrado ao self compassivo
Agressividade do urso = compreender o lado furioso da psique compassiva.
Descer a montanha = trazer o conhecimento ate a vida real
Destruir o pêlo = aprender que a cura reside na busca e na pratica
Conselho da curandeira = aplique tudo a sua raiva e ficará tudo bem.
Esposa = espirito amoroso da psique        
Curandeira= nosso self sábio, recurso para ver além da irritação.
Montanha = símbolo para descrever níveis de autocontrole que devemos atingir antes de podemos passar para o nível seguinte.
Lado positivo da raiva – É uma energia e podemos usa-la para iluminar lugares que não vemos. É uma emoção, possui conhecimento, pode nos ensinar a identificar algo a ser tratado internamente e depois ser transformado em algo útil (criatividade) ou algo para deixarmos morrer.  O ciclo da raiva é subir, cair, morrer e ser liberada como uma energia nova.
Lado negativo da raiva – concentra-la destrutivamente num único ponto até que perfure todas as camadas delicadas da psique (ex. corroendo como acido)
A raiva corrói nossa confiança de que algo bom possa acontecer. Por traz da falta de esperança esta a raiva, por trás da raiva a dor, por traz da dor algum tipo de tortura ou ruptura. Precisamos compreender o fato gerador e o que podemos fazer com isso.  Dar um passo de cada vez.
A curandeira faz parte na psique da mulher, se a tivermos perdido, podemos invoca-la novamente ao examinar com calma a situação que provoca nossa raiva, projetando-nos para o futuro para decidir, o que nos deixaria orgulhosa do nosso comportamento passado, e depois agimos de acordo com isso.
A indignação ou irritação que sentimos pode ser exacerbada quando houve repetidas ocorrências de desrespeito, perseguição, negligencia ou insegurança na infância. A pessoa fica sensibilizada para futuros traumas e utiliza todas as defesas para evita-los. Significativas perdas do poder da certeza de que somos dignos de cuidado, respeito e atenção, geram tristeza e juramentos irados por parte da criança, de que quando adulta, ela nunca mais se permitirá ser ferida daquela forma. Podemos chegar bem perto de um trauma da infância ao examinar o que faz com que o adulto perca o controle.  
Quando a montanha permite a passagem da mulher e as arvores erguem seus galhos para ela passar, simboliza a dispersão das ilusões. Enxergar as coisas como elas são, fortalece a pessoa dos acontecimentos, dos seres e das coisas, e faz com que ela aprenda a não levar tão a serio a primeira impressão, mas a sempre procurar mais fundo.
Urso = ressurreição. (hibernação – acordar para a vida – ciclos)
O pelo do pescoço do urso é um talismã, um lembrete do que se aprendeu.
A iluminação não ocorre na montanha e sim na incineração do pelo, onde a projeção de uma cura magica se desfaz. Não é algo material que de repente tornará tudo perfeito. Podemos deter todo o conhecimento, mas sem a pratica, ele não vale de nada.
Quando a raiva surge, devemos aguardar, soltar as ilusões, entender e conversar com ela. Precisamos ter paciência, ser gentil com o ser furioso.
Se isso ocorrer, a mulher volta a vida cotidiana com novos conhecimentos, com um novo sentido de poder viver sua vida.
A raiva residual de antigas feridas são iguais ferimentos por estilhaços, os caquinhos menores permanecem. E esses caquinhos se torcem e retorcem , causando dor semelhante a do ferimento original.
A raiva não é como um calculo renal, que se esperarmos um tempo suficiente, a dor passa. Não é possível fugir da nossa historia. Precisamos parar , recuar e procurar a solidão. É demais tentar lutar e lidar ao mesmo tempo com a sensação de que foi atingido nas vísceras. Precisa se livrar da ilusão de que o presente é uma representação exata e calculada do passado.
Existem ocasiões em que é necessário liberar a raiva. Quando a mulher presta atenção no self instintivo, ela saberá a hora certa.
Para poder usar a sua intuição, a mulher precisa se manter aberta a todas as coisas, e essa abertura a deixa vulnerável (sem limites). Ela pode usar sua raiva para criticar, usar sua frieza para anestesiar, dizer doces palavras quando quer punir, etc. A forma como trata os outros, evidencia como esta sofrendo uma agressão violenta dentro da sua própria psique.
A mulher que levou uma vida torturante, tem uma profundidade incalculável.
Há momentos em nossa vida que precisamos tomar decisões a respeito de nos tornarmos amargas ou não. (sonhos jogados fora, corações partidos, casamentos desfeitos, promessas esquecidas). Todas essas mortes são processos de descansos.
Criar descansos significa examinar sua vida e marcar os pontos em que ocorreram essas mortes. (em um papel, assinalar com uma cruz, as ocasiões que decidiu não tomar um caminho, caminhos que foram obstruídos). Onde estão as cruzes? Onde estão os pontos que precisam ser lembrados? Leva tempo e exige paciência.
Negar a dor e a raiva não resolve. A raiva pode fazer com que a mulher não se livre de acontecimentos passados, repisar traumas por um certo tempo é importante para a cura. Todo sofrimento acaba sendo suturado, mas pode acontecer com a formação de cicatrizes.
A raiva coletiva pode ser bem utilizada como motivação para procurar ou oferecer apoio, para imaginar meios de forçar grupos ou indivíduos a um dialogo (manifestações)
Quando a mulher não consegue se livrar da raiva é porque muitas vezes, ela esta usando isso para ganhar forças. A raiva é um fogo que queima a sua própria energia vital. É como tentar levar uma vida equilibrada com o pé no acelerador.
Carregar a raiva antiga além do ponto da sua utilidade, é carregar uma ansiedade constante. Estar cansada o tempo todo, ser cínica, destruir a esperança, frustrar o novo, o promissor.
Na nossa cultura achamos que o perdão precisa ser absoluto, é fechar os olhos e fingir que nada acontece. Mas não é assim, não é tudo ou nada. O perdão tem muitas camadas. O perdão consiste em começar e persistir. Precisamos nos dispor da cura e termos a paciência para acompanhar o processo.
Os quatro estágios do perdão
1)      Deixar passar
É bom deixar passar algum tempo, deixar de pensar provisoriamente na pessoa ou acontecimento. Tirar umas férias do assunto. Não é fechar os olhos, mas adquirir agilidade e força para se desligar da questão. Deixar passar é voltar a fazer o que gosta, escrever, ir até o mar, etc. Deixar que o tema saia do primeiro plano.
2)      Controlar-se
Parar de punir, não reagir ao fato. A pessoa não deve ficar cega ou perder a sua vigilância protetora. É ter paciência, resistir, canalizar a emoção. É um regime de purificação. Parar de falar sobre o assunto, resmungos punitivos, agir com hostilidade. Ao evitar punições desnecessárias, estará reforçando a integridade da alma e da ação. Controlar-se é praticar a generosidade.
3)      Esquecer
Afastar da lembrança, recusar-se a repisar um assunto, deixar de lado, soltar. Esquecer é uma atividade e não uma atitude passiva. Significa não trazer o material até a superfície, nem revira-los constantemente, nem se irritar com pensamentos, imagens ou emoções repetitivas. Criar vida e experiências novas em que pensar no lugar das antigas. Esse tipo de esquecimento não apaga as memorias, apenas enterra as emoções que a cercam.
4)      Perdoar
É a pessoa que decide quando perdoar, quando a divida não precisa mais ser paga. É deixar de excluir o outro. O perdão é um ato de criação. Pode perdoar por enquanto, perdoar até que, perdoar mas não dar outra chance ou dar muitas chances. Pode perdoar em parte, pela metade ou totalmente.
Como saber que perdoou? Passa a sentir tristeza a respeito da circunstancia, em vez de raiva. Passa a sentir pena da pessoa ao invés de irritação. Compreende o sofrimento que provocou a ofensa.