Já tentei de tudo
Quando as folhas da sua samambaia secam e caem, você não supõe que a
planta fez de propósito para lhe dar trabalho ou para que suspeitem de que você
não é uma boa jardineira. Você interpreta a "atitude" da planta como
uma mensagem: água de mais ou de menos, menos luz, mais adubo... Carência ou
excesso, você tenta entender o que está acontecendo.
Uma criança é mais complexa do que uma planta, mas não mais complicada.
As supostas pirraças manifestam necessidades, carência ou excesso. E se a
atitude da criança não fosse uma provocação, e sim uma consequência, uma
resposta, uma reação?
A criança não reage desse modo nem por acaso nem por vontade de
incomodar, são na verdade respostas do cérebro da criança a situações complexas
demais para elas.
Quando as necessidades de contato da criança não são suficientemente
correspondidas, seus circuitos cerebrais ficam em carência. Crises de raiva,
choros sem razão e comportamentos extremos são algumas das manifestações de perturbação
do sistema nervoso.
Dedicar 10 minutos que sejam, por dia, de total disponibilidade ao seu
filho, para lhe dar afeto e carinho, é a garantia de noites mais tranquilas!
O sistema nervoso da criança, sobrecarregado, desencadeia essa reação de
descarga das tensões acumuladas. Você pede que ela se acalme, mas a crise é a
sua maneira de se acalmar.
É paradoxal irritar-se ao mesmo tempo pedir a uma criança que se acalme.
É mais eficaz contê-la com carinho e serenidade. Isso desencadeará a liberação
de oxitocina, hormônio que a ajudará a se acalmar e a desenvolver as vias de
comunicação neuronais que a auxiliarão a gerir as suas emoções durante toda a
sua vida.
Ficar quieta numa fila de espera, em engarrafamentos, no restaurante, ou
numa viagem de três horas de carro está acima das capacidades de uma criança
entre 2 a 6 anos.
Uma criança que se mexe muito não precisa necessariamente "se
acalmar", mas sim dirigir sua energia para outra coisa. É inútil e nocivo
para o cérebro e para o equilíbrio psíquico da criança puni-la por que ela não
fica sossegada. Dar-lhe um objetivo, uma ocupação, alimentará as necessidades
do seu cérebro de modo mais eficaz.
A criança chora, tem uma crise ou um comportamento inapropriado?
Trata-se de:
Uma busca de estímulo: oriente suas atividades de maneira que ela encontre os estímulos de
que necessita através de um comportamento apropriado.
Um comportamento de
apelo: identifique a necessidade e a satisfaça, ou
nomeie-a se não for possível satisfazê-la imediatamente.
Uma descarga de tensões: acolha o choro e os gritos, contenha os movimentos desorganizados, que
podem levá-la a se machucar, acalme o estresse e restitua-lhe a calma interior.
Não é nada disso? Então pode ser:
Uma reação a uma atitude inapta
por parte dos pais ou
Um comportamento natural da idade
dela!
Até os 3 anos, as regras são apenas palavras sem ligação concreta com
seus atos, pois ela ainda não pode conceitualizar, não pode guardar as palavras
na memória, não tem a capacidade de inibir seus gestos, explorar novas
competências é uma prioridade e seu cérebro não processa de forma correta a
negação.
Quando a criança
obedece a uma ordem, o lobo frontal do seu cérebro permanece inativo.
Quando você faz com que a criança reflita, quando lhe oferece uma
escolha e lhe deixa um espaço de decisão pessoal, você lhe propõe que mobilize
seu lobo frontal, aquele que permite pensar, decidir antecipar, prever –
tornar-se responsável.
Como evitar dar ordens?
-
Consolidar associações
-
Criar rotinas, séries de ações.
-
Fazer perguntas, instigar
a reflexão.
-
Colocar a criança em
posição de decidir, mesmo que seja sobre algo pequeno.
-
Dar informações
-
Oferecer escolhas permite
também que a criança se sinta responsável pela decisão e diga EU.
Criando rotinas você evitará muitos conflitos.
A criança muitas vezes só precisa que o seu desejo seja reconhecido.
Nossos desejos definem os contornos do nosso sentimento de identidade.
Á noite, antes de dormir, você pode lhe propor:
-
Que fale sobre o que foi
difícil durante o dia,
-
Que desenhe o seu dia e
que coloque suas preocupações no papel
O desejo não expressa uma necessidade legítima, é sem dúvida útil saber
recusar. Se a criança tivesse todos os seus desejos imediatamente satisfeitos,
perderia a noção dos próprios limites entre si e o ambiente, na experiência da
frustação.
Muitos pais não ousam recusar nada aos seus filhos, por medo de
traumatizá-los, medo de fazê-los sofrer ou de perder seu amor, por terem eles próprios
sofridos por conta de recusas e negativas dos pais. Na realidade, eles têm medo
das crises de raiva.
A criança tem o direito
de sentir raiva, é a emoção natural da frustação. Ela tem o direito de expressar essa raiva para os pais, que, em geral,
são os causadores da sua frustação. E para que ela fique livre para sentir e
expressar a sua raiva, e dessa forma aprender a aceitar a frustação, é
necessário que seus pais não se sintam derrotados nesse processo. Quando os
pais tem medo da raiva da criança, ela percebe e pode ou embotar a raiva ou se
tornar violenta, se essa fúria se misturar a uma sensação de impotência.
A ativação repetida do alerta cerebral impulsionado pelo modo durante a
infância pode provocar, mais tarde, distúrbios de ansiedade.
Os tapas ensinam que bater é uma forma de resolver os problemas. Batendo
nos filhos, os pais acabam incentivando- os a agir da mesma forma.
A criança acumula em si o medo e a raiva, que podem aparecer mais tarde
como sintomas de violência contra o outro – os amigos da escola e todas as
pessoas sobre as quais ela terá alguma ascendência, principalmente seus filhos
– ou contra ela própria, na forma de doenças psicossomáticas ou de fracassos
repetidos. Mesmo já adulta, o medo poderá ressurgir a cada instante. Com pouca
confiança em si mesma, a criança tentará se adaptar antes de se questionar, se
submeterá obedientemente a qualquer autoridade ou, ao contrário, tornará o
poder pela força sobre o outro, pois foi assim que aprendeu a fazer.
Tais atitudes introduzem uma confusão nas bases de referência da criança.
Como entender que aquele que diz que a ama também bate em você? Na cabeça da
criança, amor e humilhação se associam o que não é bom presságio para as
futuras relações amorosas.
Desculpar tudo não educa. Apagar as consequências impede que a criança
aprenda. A partir do momento em que a criança tiver idade para fazer sozinha, é
importante permitir que ela mesma o faça, caso contrário poderá estar lhe
ensinando que:
-
Ela não é capaz
-
Seus gestos não tem
consequência e que, portanto, não é necessário ficar atenta a eles,
-
Os outros estão a seu
serviço.
Se a criança já tem idade para entender que seu ato provocou o problema,
a sanção muitas vezes já está lá, ela é a consequência natural ou lógica do
comportamento dela. A sanção reparadora é educativa e uma alternativa às
punições, pois ela responsabiliza a criança ao lhe permitir medir o alcance de
seus atos e lhe ensinar a pegar uma via de retorno para dentro da relação.
Para ajudar nossos filhos
a crescerem, é melhor nos concentramos nas soluções e não nos problemas.
Aproveitamos cada
instante de cada etapa da vida de nossos filhos. Passa rápido demais. Existe
apenas uma única e verdadeira urgência:
AMAR!
Retirado do livro: "Já tentei de tudo" de Isabelle Filliozat
Muito bom, li todo artigo!!!
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