sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Natal/ Ano Novo

Reflexões


Conforme diz a tradução da musica So This Is Christmas de John Lennon : “Então é Natal, e o que você fez? O ano termina e nasce outra vez”, nesta época nos deparamos com muitas reflexões e questionamentos:  “O que fiz afinal durante o ano que está acabando?”  “Será que fiz o que havia me proposto?” “E para o próximo? O que devo fazer?”
É um tempo de renovação, ou seja, é o novo abrindo espaço dentro de cada um de nós.  Esse clima nos oferece a chance de percebermos com maior clareza as áreas da nossa vida em que nos encontramos paralisados, onde precisamos movimentar, o que precisa ser mudado. Isso nos leva a sermos mais responsáveis pela nossa vida e a criar metas de transformação pessoal.
Porém, não é raro percebermos que muitas pessoas são invadidas por uma angustia inexplicável, isso se deve ao fato de que nesta época fica mais evidente e emergencial a necessidade das trocas afetivas reais e do perdão ao outro e a si próprio. Essas reflexões nos colocam frente a frente com questões depressivas já existentes. É uma grande oportunidade para encararmos o que esta nos incomodando e resolvermos.
No natal entramos em contato com um mito muito importante para a nossa psique, o mito do Papai Noel. Ele representa a esperança porque nos faz confiar que aquilo que desejamos irá ser realizado. A esperança requer uma certa perseverança, precisa ser alimentada, precisamos acreditar que algo é possível mesmo quando há indicações do contrário.  Sem a esperança, deixamos de acreditar nas coisas e em nós, deixamos de desejar e de perseguir nossos sonhos.
Que aproveitemos então para refletir sobre tudo o que passou esse ano e que tenhamos esperança para desejar o que queremos para o ano que se iniciara.

Algumas dicas:

- Faça uma lista de tudo que foi bom e do que não foi bom neste ano que está acabando. É importante esse reconhecimento para a reflexão posterior.

- Não se critique! Veja os acontecimentos negativos como aprendizado, eles fazem parte do nosso crescimento pessoal.

- Se parabenize! Veja tudo o que foi positivo como motivação para ações ainda melhores no futuro.

- Ofereça e peça perdão! Não alimente e carregue dores para o próximo ano.

- Descubra seus objetivos! Liste o que deseja e o que precisa fazer para alcançar cada item desta lista.



terça-feira, 4 de novembro de 2014

A deusa Baubo




Deméter,  a mãe-terra,  tinha uma linda filha chamada Perséfone, que estava  um dia brincando ao ar livre.
 Perséfone  encontrou por  acaso uma flor de rara beleza  e estendeu os dedos  para tocar
seu  lindo cálice.    De repente, a terra começou  a tremer e uma gigantesca fenda se abriu
em  ziguezague.     Das profundezas da terra chegou Hades,  o deus dos Infernos.  Ele
chegou alto e majestoso numa biga negra puxada por quatro cavalos da cor de fantasmas.
Hades apanhou Perséfone, levando-a para sua biga, em meio a uma confusão de véus e
sandálias.    Ele guiou, então seus cavalos cada vez mais para dentro da terra.   Os gritos
de Perséfone foram ficando cada vez mais fracos à medida que a fenda foi
se fechando como se nada tivesse acontecido.    Por toda a terra,  abateu-se um silêncio e o perfume de flores  esmagadas.    E a voz da donzela a gritar   ecoou nas pedras das montanhas   e   borbulhou num lamento vindo do fundo do mar.    Deméter ouviu os gritos das pedras.
 Ela ouviu,  também,  o choro das águas.   Arrancou,  então, a grinalda dos seus cabelos
imortais,  deixou cair de cada ombro seus véus escuros e saiu a sobrevoar a terra como
uma ave enorme,procurando, chamando por sua filha.   Naquela noite, uma velha à
frente de uma gruta comentou com suas irmãs que havia ouvido três gritos naquele  dia
um,  o de uma voz jovem que gritava de pavor;  um outro que implorava ajuda;   e um
terceiro, o de uma mãe que chorava.   Não se via Perséfone em parte alguma.   E assim
começou a procura longa e enlouquecida de Deméter por sua filha querida.   Deméter
esbravejava,  chorava, gritava, fazia perguntas,  procurava debaixo,  dentro e em cima de
todos os acidentes geográficos,  implorava por misericórdia,  implorava pela morte,  mas
não conseguia encontrar sua filha amada.
Assim,  ela,  que havia gerado o crescimento perpétuo tudo,  amaldiçoou todos os campos férteis do mundo,  gritando na sua dor.
— Morram! Morram!
Em decorrência da maldição de Deméter,  nenhuma criança poderia nascer,  nenhum trigo poderia crescer para se fazer pão,  nenhuma flor para as festas,  nenhum ramo para os mortos.      Tudo ficou murcho e esgotado na terra toda queimada  e nos seios secos.
A própria Deméter não mais se banhava .    Seus mantos estavam encharcados de lama;
seus cabelos pendiam em cachos imundos.      Muito embora a dor no seu coração
fosse tremenda,  ela não se entregava.    Depois de muita investigação,  de muitos pedidos e de muitos incidentes,  tudo levando a nada, ela afinal perdeu as forças ao lado de um poço numa aldeia onde não era conhecida.    E quando recostou seu corpo dolorido na pedra fresca do poço,  chegou por ali uma mulher,  ou melhor, uma espécie de mulher.  E  essa mulher chegou dançando até Deméter,  balançando os quadris de um jeito que
sugeria a relação sexual,  e balançando os seios nessa sua pequena dança.    E, quando
Deméter a viu,  não pôde deixar de sorrir um pouco.    A fêmea que dançava era
realmente mágica,  pois não tinha nenhum tipo de cabeça,  seus mamilos eram seus olhos
e sua vulva era sua boca.    Foi com essaboquinha que ela começou alegrar  Deméter com algumas piadas picantes e engraçadas.    Deméter começou a sorrir,  depois deu um
risinho abafado e em seguida uma boa gargalhada.   Juntas, as duas mulheres riram, a
pequena deusa do ventre,  Baubo, e a poderosa deusa mãe da terra, Deméter.   E foi exatamente esse riso que tirou Deméter da sua depressão e lhe deu energia para
prosseguir na sua busca pela filha,  que acabou em sucesso, com a ajuda de Baubo, da
velha Hécate, e do sol Hélios.    Restituíram Perséfone à sua mãe.    O mundo, a terra e o
ventre das mulheres voltaram a viver.

Clarissa Pinkola Estés.  

Um hino para o Homem Selvagem: Manawee

Era uma vez um homem que vinha cortejar duas irmãs gêmeas.
— Você não poderá se casar com elas a não ser que consiga adivinhar seus nomes — dizia, porém, o pai das moças.
Manawee  tentava e tentava, mas não conseguia adivinhar os nomes das irmãs. O pai das moças abanava a cabeça e mandava Manawee embora todas às vezes.
Um dia Manawee levou seu cachorrinho junto numa visita de adivinhação, e o cachorro percebeu que uma irmã era mais bonita do que a outra e que a outra era mais delicada do que a primeira. Embora nenhuma das duas irmãs possuísse todas as virtudes, o cachorrinho gostou muito delas porque elas lhe deram petiscos e sorriram olhando fundo nos seus olhos. Também naquele dia Manawee não conseguiu adivinhar os nomes das jovens e voltou irritado para casa.
O cachorrinho, porém, voltou correndo para a choupana das irmãs. Ali ele enfiou a orelha por baixo de uma das paredes laterais e ouviu as moças dando risinhos e falando sobre como Manawee era bonito e másculo.
Enquanto falavam, as irmãs se chamavam mutuamente pelo nome, e o cachorrinho, tendo ouvido, voltou correndo com a maior velocidade possível para seu dono para lhe passar a informação.
No caminho, porém, um leão havia deixado um grande osso ainda com carne perto do caminho, e o minúsculo cachorrinho sentiu imediatamente o cheiro, não pensou em mais nada e se desviou no mato adentro arrastando o osso. Ali, ele lambeu e mordiscou o osso com grande prazer até que todo o sabor desapareceu. Ah! O pequeno cãozinho de repente se lembrou da tarefa esquecida, mas infelizmente ele também havia esquecido os nomes das moças. Por isso, ele correu de volta à choupana das gêmeas e dessa vez já era de noite e as jovens estavam passando óleo nos braços e pernas uma da outra e se arrumando como se fosse para uma festa. Mais uma vez o cãozinho as ouviu chamando-se mutuamente pelo nome. Ele deu pulos de alegria e estava correndo pelo caminho afora na direção da choupana de Manawee quando do meio do mato veio o aroma de noz-moscada fresca.
Ora, não havia nada que o cachorrinho adorasse mais do que noz-moscada. Por isso, ele se desviou um pouco do caminho e correu para o lugar onde uma bela torta de laranjas estava esfriando em cima de uma tora. Bem, logo a torta já não existia mais, e o cachorrinho tinha um adorável hálito de noz-moscada. Enquanto trotava de volta para casa com a pança cheia, tentou pensar nos nomes das moças, mas, mais uma vez, ele os havia esquecido.
Finalmente, o cachorrinho tornou a voltar correndo até a choupana das irmãs,e dessa vez as irmãs estavam se preparando para se casar. "Ah, não!" pensou o cachorrinho, "quase não tenho mais tempo." E, quando as irmãs se chamaram pelo nome, ele guardou os nomes na mente e saiu em disparada, com a determinação resoluta e absoluta de que nada iria impedi-lo de transmitir os preciosos nomes a Manawee imediatamente.
O cãozinho vislumbrou uma caça pequena recém-morta no caminho, mas a ignorou e saltou por cima dela. Por um instante, pareceu-lhe sentir o aroma de noz-moscada no ar, mas ele o ignorou e preferiu continuar correndo na direção da sua casa e do seu dono. No entanto, ele não contava com a possibilidade de um estranho saltar do mato, agarrá-lo pelo pescoço e sacudi-lo ao ponto de seu rabo quase cair.
Pois, foi o que aconteceu.
— Diga-me aqueles nomes! Diga-me os nomes das moças para que eu as possa conquistar — gritava o estranho o tempo todo.
O cãozinho achou que ia desmaiar com aquele punho lhe apertando o pescoço, mas lutou com bravura. Ele rosnou, arranhou, esperneou e, afinal, mordeu o estranho entre os dedos. Os dentes do animal picavam como vespas. O estranho berrava como um búfalo-da-índia, mas o cãozinho não o soltava. O estranho correu pelo mato adentro com o cãozinho pendurado numa das mãos.
— Solte-me, solte-me, cãozinho, e eu o soltarei — implorou o estranho.
— Não me volte por aqui — rosnou entre dentes o cãozinho — ou não verá mais a luz do dia. — E assim o estranho fugiu pelo mato, gemendo enquanto corria. O cachorrinho prosseguiu meio mancando, meio correndo, pelo caminho até encontrar Manawee.
Muito embora seu pêlo estivesse sujo de sangue e suas mandíbulas doessem, os nomes das jovens estavam bem nítidos na sua mente, e ele se aproximou de Manawee, com dificuldade ao andar, mas feliz da vida. Manawee lavou os ferimentos do cãozinho,e este lhe contou toda a história assim como o nome das moças. Manawee correu de volta até a aldeia das moças com o cachorrinho nos ombros, e as orelhas do cachorro dançavam ao vento como rabos de cavalos.
Quando Manawee chegou até o pai com os nomes das filhas, as gêmeas
receberam Manawee completamente vestidas para viajar com ele. Elas haviam estado à sua espera o tempo todo. Foi assim que Manawee conquistou duas das donzelas mais belas da região. E todos os quatro, as irmãs, Manawee e o cãozinho, viveram juntos em paz por muito tempo. 

Clarissa Pinkola Estés.  

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A mulher foca

Pele de Foca, pele da alma

Houve um tempo, que passou para sempre e que irá logo estar de volta, em que um dia corre atrás do outro de céus brancos, neve branca... e  todos os minúsculos pontinhos escuros ao longe são pessoas, cães ou ursos.
Nesse lugar, nada viceja gratuitamente. Os ventos são fortes, e as pessoas se acostumaram a trazer consigo seus parkas, mamleks e botas, já de propósito. Neste lugar, as palavras se congelam ao ar livre e frases inteiras precisam ser arrancadas dos lábios de quem fala e descongeladas junto ao fogo para que as pessoas possam ver o que foi dito. Nesse lugar, as pessoas vivem na basta cabeleira da velha Annuluk, a avó, a velha feiticeira que é a própria terra.
E foi nessa terra que vivia um homem... Um homem tão solitário que, com o passar dos anos, as lagrimas haviam aberto fundos abismos no seu rosto. Ele tentava sorrir e ser feliz. Ele caçava. Colocava armadilhas e dormia bem. No entanto, sentia falta de companhia. Às vezes, lá nos bancos de areia, no seu caiaque, quando uma foca se aproximava, ele se lembrava de antigas historias sobre como as focas haviam um dia sido seres humanos e como o único remanescente daqueles tempos estava nos seus olhos, que eram capazes de retratar expressões, aquelas expressões sabias, selvagens e amorosas. Às vezes ele sentia nessas ocasiões uma solidão tão profunda que as lagrimas escorriam pelas fendas já tão gastas no seu rosto.
Uma noite ele caçou até escurecer, mas sem conseguir nada. Quando a lua subiu no céu e as banquisas de gelo começaram a reduzir, ele chegou a uma enorme rocha malhada no mar e seu olhar aguçado pareceu distinguir movimentos extremamente graciosos sobre a velha rocha. Ele remou lentamente e com os remos bem fundos para se aproximar e lá no alto da rocha imponente dançava um pequeno grupo de mulheres, nuas como no primeiro dia em que se deitaram sobre o ventre da mãe. Ora, ele era um homem solitário, sem nenhum amigo humano a não ser na lembrança, e ele ficou olhando.
As mulheres pareciam seres feitos de leite da lua, e sua pele cintilava com gotículas prateadas como as do salmão na primavera. Seus pés e mãos eram longos e graciosos. Elas eram tão lindas que o homem ficou sentado atordoado, no barco, e a agua nele batia, levando-o cada vez mais para junto da rocha. Ele ouvia o riso magnifico das mulheres... Pelo menos pareciam rir, ou seria a água que ria as margens da rocha? O homem estava confuso, por se sentir tão deslumbrado. Entretanto, dispersou-se a solidão que lhe pesava no peito como couro molhado e,quase sem pensar, como se fosse seu destino, ele saltou para a rocha e roubou uma das peles de foca ali jogadas. Ele se escondeu por trás de uma saliência rochosa e ocultou a pele de foca dentro de seu qutnquq,parka. Logo, uma das mulheres gritou numa voz que era a mais linda que ele já ouvira... como as baleias chamando na madrugada...ou não, talvez fosse mais parecida com os lobinhos recém –nascidos caindo aos tombos na primavera...ou então, não, era algo melhor do que isso, mas não fazia diferença porque...o que as mulheres estavam fazendo agora ? Ora, elas estavam vestindo suas peles de foca, e uma a uma as mulheres-focas deslizavam para o mar, gritando e ganindo de felicidade. Com exceção de uma. A mais alta delas procurava por toda a parte a sua pele de foca, mas não a encontrava em lugar nenhum. O homem sentiu-se estimulado—pelo quê, ele não sabia. Ele saiu de trás da rocha, dirigindo um apelo a ela.
- Mulher...  case-se...  comigo. Sou  um...  homem ...  sozinho.
- Ah- respondeu ela. -  Eu não posso me casar, porque sou de outra natureza, pertenço aos que vivem temeqvanek, lá em baixo.
-Case-se... comigo – insistiu o homem. – Em sete verões, prometo lhe devolver sua pele de foca, e você poderá ficar ou ir embora, como preferir.
A jovem mulher-foca ficou olhando muito tempo o rosto do homem com olhos que, se não fossem suas origens verdadeiras, pareciam humanos.
- Irei com você - disse ela. Relutante. – Dentro de sete verões, tomaremos a decisão.
E assim, com o tempo, tiveram um filho a quem deram o nome de Ooruk.  A criança era ágil e gorda. No inverno, a mãe contava a Ooruk historias de seres que viviam no fundo do mar enquanto o pai esculpia um urso em pedra branca com uma longa faca. Quando a mãe levava o pequeno Ooruk para a cama, ela lhe mostrava pelo buraco da ventilação as nuvens e todas aas sua s formas. Só que, em vez de falar das formas do corvo, do urso e do lobo, ela contava histórias da vaca marinha, da baleia, da foca e do salmão... pois eram essas as criaturas que ela conhecia.
No entanto, à medida que o tempo foi passando, sua pele começou a ressecar. A princípio, ela escamou e depois passou a rachar. A pele das suas pálpebras começou a descascar. O cabelo da sua cabeça, a cair no chão. Ela se tornou naluaq,do branco mais pálido. Suas formas arredondadas começaram a definhar. Ela procurava esconder seu caminhar claudicante. A cada dia seus olhos, sem que ela quisesse, iam ficando mais opacos. Ela passou a estender a mão para tatear porque sua vista estava escurecida. E as coisas iam dessa forma até uma noite em que o menino despertou ouvindo gritos e se sentou ereto nas cobertas de pele. Ele ouviu um rugido de urso, que era seu pai repreendendo a mãe. Ouviu, também, um grito como o da prata que ressoa com uma pedra, que era sua mãe.
- Você escondeu minha pele de foca há sete longos anos, e agora está chegando o oitavo inverno. Quero que me seja devolvido aquilo de que sou feita -  gritou a mulher – foca.
- E você, mulher -  vociferou o marido. – Você  me deixará se eu lhe der a pele.
- Não sei o que eu faria. Só sei que preciso daquilo a que pertenço.
- E você me deixaria sem mulher, e a seu filho, sem mãe. Você é má.
Com essas palavras, o marido afastou com violência a pele da porta e desapareceu noite adentro.  O menino adorava a mãe. Ele tinha medo de perdê-la e, por isso chorou até dormir... só para ser acordado pelo vento. Um vento estranho... que parecia chama-lo.
-Oooruk, Ooorukkkk.
Ele pulou da cama, tão apressado que vestiu o parka de cabeça para baixo e só puxou os mukluks até a metade. Ao ouvir seu nome chamando insistentemente, ele saiu correndo na noite estrelada.
-Oooooorukkk.
O menino correu até o penhasco de onde se via a água e lá, bem longe no mar encapelado, estava uma foca prateada, imensa e peluda... Sua cabeça era enorme. Seus bigodes lhe caíam até o peito. Seus olhos eram de um amarelo forte.
-Ooooooorukkkk.
O menino foi descendo o penhasco de qualquer jeito e bem junto à base tropeçou numa pedra, não, numa trouxa, que rolou de uma fenda na rocha. O cabelo do menino fustigava seu rosto como milhares de açoites de gelo.
- Ooooorukkk.
O menino abriu a trouxa e a sacudiu: era a pele de foca da sua mãe. Ah, ele sentia seu perfume na pele de foca e respirava seu cheiro, a alma da mãe penetrava nele como um súbito vento de verão.
- Ah – exclamou ele com alegria e dor, e levou novamente a pele ao rosto. Mais uma vez, a alma da mãe passou pela pele.   – Ah !!!  - gritou ele de novo, porque estava sendo impregnado pelo amor infindo da mãe. E a velha foca prateada ao longe mergulhou lentamente para baixo d`água. O menino escalou o penhasco, voltou correndo para casa com a pele de foca voando atrás dele e se jogou para dentro de casa. Sua mãe comtemplou o menino e a pele e fechou os olhos, cheia de gratidão pelo fato de os dois estarem em segurança. Ela começou a vestir sua pele de foca.
- Ah, mãe, não!  - gritou o menino.  
Ela apanhou o menino, ajeitou-o debaixo do braço e saiu correndo aos trambolhões na direção do mar revolto.
- Ai, Mamãe, não me abandone! – implorava Ooruk. E logo dava para se ver que ela queria ficar com o filho, queria mesmo, mas alguma coisa a chamava, algo que era mais velho do que ele, mais velho do que ela, mais antigo que o próprio tempo.
-Ah, mamãe, não, não, não ...choramingou a criança. Ela se voltou para ele com uma expressão de profundo amor nos olhos. Segurou o rosto do menino nas mãos e soprou para dentro dos pulmões do menino seu doce alento, uma vez,  duas, três vezes. Depois, com o menino debaixo do braço como uma carga preciosa, ela mergulhou bem no fundo do mar e cada vez mais fundo. A mulher-foca e seu filho não tinham dificuldade para respirar debaixo d``agua.
Eles nadaram muito para o fundo até que entraram no abrigo subaquático das focas, onde todos os tipos de criaturas estavam jantando e cantando, dançando e conversando, e a enorme foca prateada que havia chamado Ooruk de dentro do mar da noite abraçou o menino e o chamou de neto.
­- Como você está se sentindo lá em cima, minha filha? – Perguntou a grande foca prateada. A mulher-foca afastou o olhar e respondeu.
- Magoei um ser humano... um homem que deu tudo para que eu ficasse com ele. Mas não posso voltar para ele, porque, se o fizer, estarei me transformando em prisioneira.
_ E o menino  -  perguntou a velha foca. – Meu neto? – Ele estava tão orgulhoso que sua voz tremia.
_ Ele tem de voltar, meu pai. Ele não pode ficar aqui. Ainda não chegou o seu tempo de ficar conosco.- Ela chorou.
 E juntos eles choraram. E assim passaram-se alguns dias e noites, exatamente sete, período durante o qual voltou o brilho aos cabelos e aos olhos da mulher-foca. Ela adquiriu uma bela cor escura, sua visão se recuperou, seu corpo voltou às formas arredondadas, e ela nadava com agilidade. Chegou, porém, a hora de devolver o menino à terra.
Nessa noite, o avô-foca e a bela mãe do menino nadaram com a criança entre eles. Vieram subindo, de volta ao mundo da superfície. Ali eles depositaram Ooruk delicadamente no litoral pedregoso ao luar.
- Estou sempre com você – afiançou-lhe sua mãe – Basta que você  toque algum objeto que eu toquei, minhas varinhas de fogo, minha ulu, faca, minhas esculturas de pedra de foca e lontras, e eu soprarei nos seus pulmões um fôlego especial para que você cante suas canções .A velha foca prateada e sua filha beijaram o menino muitas vezes. Afinal, elas se afastaram, saíram nadando mar adentro e, com um último olhar para o menino, desapareceram debaixo d`agua.  E Ooruk, como ainda não era a sua hora, ficou. Com o passar do tempo, ele cresceu esse tornou um famoso tocador de tambor, cantor e inventor de histórias. Dizia-se que tudo isso decorria do fato de ele, quando menino, ter sobrevivido a ser carregado para o mar pelos enormes espíritos das focas. Agora, nas névoas cinzentas das manhãs, ele às vezes ainda pode ser visto, com seu caiaque atracado, ajoelhado numa certa rocha do mar, parecendo falar com uma certa foca fêmea que frequentemente se aproxima da orla. Embora muitos tenham tentado caçá-la, sempre fracassaram. Ela é conhecida como Tanqigcaq, a brilhante, a sagrada, e dizem que, apesar de ser foca, seus olhos são capazes de retratar expressões, aquelas expressões sábias, selvagens e amorosas.


Clarissa Pinkola Estes



Barba Azul


                                                                         O Barba-azul

Existe uma mecha de barba que fica guardada no convento das freiras brancas nas montanhas distantes. Como chegou até o convento, ninguém sabe. Uns dizem que foram as freiras que enterraram o que sobrou do seu corpo, já que ninguém mais se dispunha a nele tocar. Desconhece-se o motivo pelo qual as freiras iriam guardar uma relíquia dessa natureza, mas é verdade. Uma amiga de uma amiga minha viu com seus próprios olhos. Ela diz que a barba é azul, da cor do índigo para ser exata. É tão azul quanto o gelo escuro no lago, tão azul quanto a sombra de um buraco à noite. Essa barba pertenceu um dia a alguém de quem se dizia ser um mágico fracassado, um homem gigantesco com uma queda pelas mulheres, um homem conhecido pelo nome de Barba-azul. Dizia-se que ele cortejava três irmãs ao mesmo tempo. As moças tinham, porém, pavor de sua barba com aquele estranho reflexo azul e, por isso, se escondiam quando ele chamava. Num esforço para convencê-las da sua cordialidade, ele as convidou para um passeio na floresta. Chegou conduzindo cavalos enfeitados com sinos e fitas cor-de-carmim. Acomodou as irmãs e a mãe nos cavalos, e partiram a meio-galope floresta adentro. Lá passaram um dia maravilhoso cavalgando, e seus cães corriam a seu lado e à sua frente. Mais tarde, pararam debaixo de uma árvore gigantesca, e o Barba-azul as regalou com histórias e lhes serviu guloseimas.
 “Bem, talvez esse Barba-azul não seja um homem tão mau assim”, começaram a pensar as irmãs.Voltaram para casa tagarelando sobre como o dia havia sido interessante e como haviam se divertido. Mesmo assim, as suspeitas e temores das duas irmãs mais velhas voltaram, e elas juraram que não veriam o Barba-azul de novo. A irmã mais nova, no entanto, achou que, se um homem podia ser tão encantador, talvez ele não fosse tão mau. Quanto mais ela falava consigo mesma, menos assustador ele lhe parecia, e sua barba também parecia ser menos azul. Portanto, quando o Barba-azul pediu sua mão em casamento, ela aceitou. Ela havia refletido muito sobre a sua proposta e concluído que ia se casar com um homem muito distinto. Foi assim que se casaram e, em seguida, partiram para seu castelo no bosque.
— Vou precisar viajar por algum tempo — disse ele um dia à mulher. — Convide sua família para vir aqui se quiser. Você pode cavalgar nos bosques, mandar os cozinheiros prepararem um banquete, pode fazer o que quiser, qualquer desejo que seu coração tenha. Para você ver, tome minhas chaves. Pode abrir toda e qualquer porta das despensas, dos cofres, qualquer porta do castelo; mas essa chavinha, a que tem no alto uns arabescos, você não deve usar.
— Está bem, vou fazer o que você pediu. Parece que está tudo certo. Portanto, pode ir, meu querido, não se preocupe e volte logo. — E assim ele partiu, e ela ficou. Suas irmãs vieram visitá-la e elas sentiam, como todo mundo, muita curiosidade a respeito das instruções do dono da casa quanto ao que deveria ser feito enquanto ele estivesse fora. A jovem esposa falou alegremente.
— Ele disse que podemos fazer o que quisermos e entrar em qualquer aposento que desejarmos, com exceção de um. Só que eu não sei qual é esse aposento. Só tenho uma chave e não sei que porta ela abre.As irmãs resolveram fazer um jogo para ver que chave servia em que porta. O castelo tinha três andares, com cem portas em cada ala, e como havia muitas chaves no chaveiro, elas iam de porta em porta, divertindo-se imensamente ao abrir cada uma delas. Atrás de uma porta, havia uma despensa para mantimentos, atrás de outra, um depósito de dinheiro. Todos os tipos de bens estavam atrás das portas, e tudo parecia maravilhoso o tempo todo. Afinal, depois de verem todas aquelas maravilhas, elas acabaram chegando ao porão e, ao final do corredor, a uma parede fechada.
Ficaram intrigadas com a última chave, a que tinha o pequeno arabesco.
— Talvez essa chave não sirva para abrir nada. — Enquanto diziam isso, ouviram um ruído estranho — errrrrrrrr. — Deram uma espiada na esquina do corredor e — que surpresa!
 — havia uma pequena porta que acabava de se fechar. Quando tentaram abri-la, ela estava trancada.
— Irmã, irmã, traga sua chave — gritou uma delas. — Sem dúvida é essa a porta para aquela chavinha misteriosa.
Sem pestanejar, uma das irmãs pôs a chave na fechadura e a girou. O trinco rangeu, a porta abriu-se, mas lá dentro estava tão escuro que nada se via.
— Irmã, irmã, traga uma vela. — Uma vela foi acesa e mantida no alto um pouco para dentro do aposento, e as três mulheres gritaram ao mesmo tempo, porque no quarto havia uma enorme poça de sangue; ossos humanos enegrecidos estavam jogados por toda a parte e crânios estavam empilhados nos cantos como pirâmides de maçãs.
Elas fecharam a porta com violência, arrancaram a chave da fechadura e se apoiaram umas nas outras arquejantes, com o peito arfando. Meu Deus! Meu Deus!
A esposa olhou para a chave e viu que ela estava manchada de sangue. Horrorizada, usou a saia para limpá-la, mas o sangue prevaleceu.
— Oh, não! — exclamou. Cada uma das irmãs apanhou a chave minúscula nas mãos e tentou fazer com que voltasse ao que era antes, mas o sangue não saía.
A esposa escondeu a chavinha no bolso e correu para a cozinha. Quando lá chegou, seu vestido branco estava manchado de vermelho do bolso até a bainha pois a chave vertia lentamente lágrimas de sangue vermelho-escuro.
— Rápido, rápido, dê-me um esfregão de crina — ordenou ela à cozinheira. Esfregou a chave com vigor, mas nada conseguia deter seu sangramento. Da chave minúscula transpirava uma gota após outra de sangue vermelho.Ela levou a chave para fora, tirou cinzas do fogão a lenha, cobriu a chave de cinzas e esfregou mais. Colocou-a no calor do fogo para cauterizá-la. Pôs teia de aranha nela para estancar o fluxo, mas nada conseguia deter as lágrimas de sangue.
— Ai, o que vou fazer? — lamentou-se ela. — Já sei, vou guardar a chave. Vou colocá-la no guarda-roupa e fechar a porta. Isso é um pesadelo. Tudo vai dar certo. —E foi o que fez.
O marido chegou de volta exatamente na manhã do dia seguinte e entrou no castelo já procurando pela esposa.
— E então, como foram as coisas enquanto eu estive fora?
— Tudo correu bem, senhor.
— Como estão minhas despensas? — trovejou o marido.
— Muito bem, senhor.
— E como estão meus depósitos de dinheiro? — rosnou ele.
— Os depósitos de dinheiro também estão bem, senhor.
— Então, tudo está certo, esposa?
— É, tudo está certo.
— Bem — sussurrou ele —, então é melhor devolver minhas chaves.
Com um relancear de olhos, ele percebeu a falta de uma chave.
— Onde está a menorzinha?
— Eu... eu a perdi. É, eu a perdi. Estava passeando a cavalo, o chaveiro caiu e eu devo ter perdido uma chave.
— O que você fez com ela, mulher?
— Não... não me lembro.
— Não minta para mim! Diga-me o que fez com aquela chave!
 Ele tocou seu rosto como se fosse lhe fazer um carinho, mas em vez disso a segurou pelos cabelos.
— Sua traidora! — rosnou, jogando-a ao chão. — Você entrou naquele quarto, não entrou?

Ele abriu o guarda-roupa com brutalidade e a pequena chave na prateleira decima havia sangrado, manchando de vermelho todos os belos vestidos de seda que estavam pendurados.

— Chegou a sua vez, minha querida — berrou ele, arrastando-a pelo corredor e pelo porão adentro até pararem diante da terrível porta. O Barba-azul apenas olhou para a porta com seus olhos enfurecidos, e ela se abriu para ele. Ali jaziam os esqueletos de todas as suas esposas anteriores.

— Vai ser agora!!! — rugiu ele, mas ela se agarrou ao batente da porta sem largar, implorando por clemência.

— Por favor, permita que eu me acalme e me prepare para a morte. Conceda me quinze minutos antes de me tirar a vida para que eu possa me reconciliar com Deus.

— Está bem — rosnou ele. — Você tem seus quinze minutos, mas prepare-se.
A esposa correu escada acima até seus aposentos e determinou que suas irmãs fossem para as muradas do castelo. Ajoelhou-se para rezar, mas, em vez de rezar, gritou para as irmãs.

— Irmãs, irmãs, vocês estão vendo a chegada dos nossos irmãos?

— Não vemos nada, nada na planície nua. A cada instante ela gritava para as muradas.

— Irmãs, irmãs, estão vendo nossos irmãos chegando?

— Vemos um redemoinho, talvez um redemoinho de areia bem longe.

Enquanto isso, o Barba-azul esbravejava para que sua esposa descesse até o porão para ser decapitada.

— Irmãs, irmãs! Estão vendo nossos irmãos chegando? — gritou ela mais uma vez.
O Barba-azul berrou novamente pela esposa e veio subindo a escada de pedra com passos pesados.

— Estamos, estamos vendo nossos irmãos — exclamaram as irmãs. — Eles estão aqui e acabam de entrar no castelo.

O Barba-azul vinha pelo corredor na direção dos aposentos da esposa.

— Vim apanhá-la — gritou ele. Suas passadas eram pesadas; as pedras no piso se soltavam; a areia da argamassa caía esfarinhada no chão.
No instante em que o Barba-azul entrou nos aposentos com as mãos esticadas para agarrá-la, seus irmãos chegaram galopando pelo corredor do castelo ainda montados, entrando assim no quarto. Ali eles encurralaram o Barba-azul fazendo com que saísse até a balaustrada. E ali mesmo, com suas espadas, avançaram contra ele, golpeando e cortando, fustigando e retalhando, até derrubá-lo ao chão, matando-o afinal e deixando para os abutres o que sobrou dele.


Clarissa Pinkola Estés.                                          

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Convite Grupo Vivencial

GRUPO VIVENCIAL

Um convite para se conhecer profundamente.

O grupo vivencial é um meio para encontrar o equilíbrio entre conhecimento e pratica, usando ferramentas para você vivenciar dentro de si mesmo, o conteúdo transmitido. Com encontros mensais, oferece uma nova forma de iniciar ou aprofundar o processo de autoconhecimento.

O grupo é voltado para mulheres e o tema abordado é o feminino em toda sua dimensão. A base do estudo é o livro “Mulheres que correm com os lobos” de Clarissa Pinkola Estés

FREQUÊNCIA: mensal
HORÁRIOS: 19:30h às 21:30h
LOCAL: Rua Conde Francisco Matarazzo, 104- Jd Vergueiro - Sorocaba
VALOR: R$ 25,00

 

INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES: psicanalista1@hotmail.com / 991513655

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Malévola - A mulher que perdeu as asas

O filme "Malévola" é sem duvida, riquíssimo em interpretações. A demonstração do feminino machucado foi o que mais me chamou a atenção.
A menina Malévola, com toda a sua força e pureza, confia no amor e no outro. Baseando-se em sua própria conduta e valores, acredita e entrega-se.
Quando então o outro aproveita desta confiança e entrega e a trai, roubando suas asas...seu poder mais especial...sua liberdade.
O momento que Malévola acorda e se vê sem suas asas, na minha opinião foi o ponto mais forte do filme. Acredito que toda mulher que já se viu sem suas asas, se reconheceu naquele grito de dor. E mesmo com todo seu sofrimento, físico e emocional, ela se levanta e segue, contando com a ajuda de um cajado.
Quantas de nós, já não tivemos as asas roubadas, pelo menos uma vez na vida?! Quantas vezes não nos machucamos por sermos ingênuas?!
No filme, Malévola só tem suas roubadas por ter adormecido, se desconectado dela própria e ter se entregado ao outro. Se estivesse inteira, equilibrada, em sintonia com seus instintos, não teria se deixado enganar. Muitas vezes, agimos exatamente assim...nos desconectamos de nós, perdemos a nossa essência e nos tornamos vulneráveis.
Mas quando isso acontece, a mulher tem a opção de construir o seu cajado e se reerguer, mesmo carregando consigo o peso da sua dor.
Muitas assim o fazem, usando a família, amigos, profissão, religião, ou qualquer outra coisa importante para ela como cajado...e segue a vida.
Após reergue-se, a luta é para recuperar suas asas. No caso de Malévola, através de Aurora, ela se reconectou à sua criança interior e voltou a acreditar no amor verdadeiro. Assim, se tornando novamente inteira, recuperando suas asas.
É necessário que cada uma de nós, em um processo de autoconhecimento, perceba a sua essência, o que lhe torna inteira, para então só assim, recuperar suas asas e voltar a ser livre.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Estimular a inteligencia do bebe



Métodos para estimular a inteligência do bebê


            A partir do quinto mês da gravidez o bebê ouve e se contar historias simples e repetidas, depois do nascimento ele ficará mais calmo quando as ouvir novamente.

A partir do segundo mês de vida, podem ser aplicados os seguintes estímulos:

            Um adulto, fora do campo de visão do bebê, toca uma campainha com um som forte, isto fará com que o bebê vire em sua direção para tentar localizar o barulho.

            Outra opção, é ascender uma lanterna a meio metro do bebê, ele deve fixar sua atenção na luz. A experiência de luz e cores brilhantes  é muito importante para a inteligência do bebê.

            Com três meses, o bebê é capaz de combinar a visão e a audição. Uma pessoa pode ficar a uns 30 cm dele e provoca-lo com gestos ou palavras, provavelmente ele olhará em sua direção e esboçará um sorriso.

            Se mostrar um objeto a uns 30 cm dele e em seguida esconde-lo, o bebê olhará em direção em que desapareceu o objeto.

Massageá-lo desenvolve o tato e a capacidade afetiva. Usar brinquedos como móbile e dar objetos de cores vibrantes para ele pegar, como mordedores e chocalhos.

            Aos quatro meses, colocando o bebê de bruços, ele irá levantar a cabeça e os ombros, apoiando-se nos cotovelos. Nesta fase também, deve-se dar objetos para ele, que os segurará com firmeza.

            Com cinco meses, se apresentar ao bebê um cartão branco a cerca de 30 cm de distancia, depois de algum tempo ele irá perder o interesse. Em seguida, trocar por um cartão igual, mas da cor vermelha, o interesse pelo segundo será logo manifestado.

            Deve-se leva-lo a outro ambiente, se possível, aproximando os objetos do campo visual dele. Ele olhará com interesse para todos os lados.

            Por volta dos seis meses, uma pessoa próxima ao bebe, pode fazer caretas durante 30 segundos, o bebê se alegrará e sorrirá. Em seguida, a pessoa irá trocar os movimentos alegres por outros severos, o bebe ficará serio também.

Brincadeiras do tipo "esconde-esconde" ajudam-no a controlar os sentimentos de tristeza pela perda e de alegria por reencontrar o objeto.

            Aos sete meses, ele já começa a imitar. Diante do bebê, um adulto bate com a mão na mesa por algum tempo, em seguida coloca o bebe no colo. Ele também tentará bater com a mão na mesa. Ele também já procura um contato ativo. Se alguém sentar ao lado dele e não olha-lo, o bebê tentará estabelecer contato com a pessoa, balbuciando e olhando para ela.

            No oitavo mês ele já consegue manusear com as duas mãos, se o bebê estiver brincando com um objeto e oferecer outro, ele irá segurar este segundo, sem soltar o primeiro.

            Com nove meses, ele já pode ser colocado de pé, com apoio e deve-se estimula-lo, colocando brinquedos fora do seu alcance, para que o bebê vá engatinhando pega-lo.

            Aos dez meses, pode-se esconder objetos dele, cobrindo com uma fralda, estimulando sua percepção e curiosidade para descobrir e encontrar o objeto.

            Com onze meses, o bebê já consegue se sentar sozinho. Quando ele estiver deitado, um adulto pode mostrar um brinquedo, mantendo-o fora do alcance de suas mãos. Ele irá sentar para apanha-lo.

            Já é possível também estimular sua memória. Deve ser mostrada ao bebê uma caixa contendo uma bola. Em seguida, deve-se levar a bola e caixa e voltar após um minuto, com a caixa sem a bola, ele não a encontrando, olhará surpreso, indagando o seu desaparecimento.

É importante estimulá-lo a reconhecer sons, odores e sensações táteis.

            Quando o bebê completar um ano, deve-se dar a ele duas caixas que se encaixem, ele irá examina-las e tentar colocar uma dentro da outra. Além disso, pode entregar a ele uma caixa fechada, que ele tentará abrir. Ele também já consegue superar obstáculos, pode mostrar-lhe uma bola e quando ele for apanha-la, colocar na frente algum obstáculo, para escondê-la. Ele irá contornar o obstáculo e apanhará a bola.

A partir de um ano, muitos estímulos podem ser dados ao bebê. Uma pessoa deve jogar a bola em direção à ele e pedir para jogar de volta, trabalhando a coordenação motora. Deve trabalha a opção de escolha e preferencia, apresentando a ele cartões coloridos e outros com figuras. Provavelmente ele escolherá os cartões com figuras por serem mais interessantes. Assim como, reconhecerá fotos de pessoas próximas a ele.

Mito de Eros e Psique

Uma das lendas mais belas e conhecidas da mitologia grega é a de Eros e Psiquê. O conhecimento geral da lenda se dá pela figura bastante difundida do anjo Eros (ou Cupido). Eros  era filho da deusa do amor, Afrodite, um imortal de beleza inigualável.

Já Psiquê, mortal, era uma das três filhas de um rei, todas muito belas, capaz de despertar a admiração de qualquer pessoa, tanto que muitos vinham de longe para apreciá-las. Logo, as duas irmãs de Psiquê casam-se. Apenas a jovem não casa, ainda que seja a mais bela das três, e justamente por isso era a mais temida, já que sua beleza fazia seus pretendentes terem medo. Consultando os oráculos, os pais da jovem entristeceram-se pelo destino da filha, já que foram aconselhados a vestirem-na com trajes de núpcias e colocarem-na num alto de um rochedo para ser desposada por um terrível monstro! Na verdade, tudo fazia parte de um plano da vingativa Afrodite, que sofria de inveja da beleza da moça.
Assim que a jovem foi deixada no alto do rochedo, um vento muito forte, Zéfiro, soprou e a levou pelos ares e ela foi colocado em um vale. Psiquê adormece exausta e quando acorda parece ter sido transportada para um cenário de sonhos, um castelo enorme de mármore e ouro e vozes sussurradas que lhe informavam tudo que precisava. Foi levada aos seus aposentos e logo percebeu que alguém a acompanhava e logo descobriu que era o marido que lhe havia sido predestinado, ele era extremamente carinhoso e a fazia sentir bastante amada, mas ele havia colocado uma condição, que ela não poderia vê-lo, pois se assim o fizesse o perderia para sempre. Psiquê concorda com a condição e permanece com ele. O próprio Eros, que tinha sido encarregado de executar a vingança da mãe, se apaixonara por Psiquê, mas que tem de se manter escondido para evitar a fúria de Afrodite.
Com o passar do tempo, ela se sentia extremamente feliz, porque seu marido era o melhor dos esposos e a fazia sentir o mais profundo amor, mas resolve fazer-lhe um pedido arriscado: o de ir visitar seus pais, mesmo com a advertência dos oráculos e o temor do esposo, ela insiste, até que ele cede.
Da mesma forma que foi transportada até o seu novo lar, Psiquê vai até a casa dos pais. O reencontro gera a felicidade dos pais e a inveja das irmãs, que enchem-na de perguntas sobre o marido, e ela acaba revelando que nunca vira seu rosto. Elas acabam convencendo-na que ela deveria vê-lo e ela se enche de curiosidade.
Quando a noite chega e ela retorna à casa, o coração dela está totalmente tomado pela curiosidade, então ela acende uma vela e procura ver o rosto do marido.
Ela fica totalmente extasiada e encantada pela beleza estonteante do marido oculto, Eros, que teria feito esse pedido para que a esposa se apaixonasse pelo que é e não pela sua beleza. Psiquê ficou tão deslumbrada pela visão do esposo que não percebeu que uma gota da cera da vela pinga no peito do amado e o acorda assustado. Ele, ao ver que ela tinha quebrado a promessa, a abandona.
Sozinha e infeliz, Psiquê começou a vagar pelo mundo. Passando, assim, por vários desafios e sofrimentos impostos por Afrodite como uma vingança por ela ter ferido o seu filho, a jovem luta  tentando recuperar o seu amor, mas acaba entregando-seà morte, caindo num sono profundo. Ao vê-la tão triste e arrependida, Eros, que também sofria com a ausência da amada, implorou a Zeus que tivesse misericórdia deles. Com a concessão de Zeus, Eros usou uma de suas flechas, despertando a amada, transformando-a numa imortal, levando-a para o Olimpo.
A partir daí, Eros e Psiquê nunca mais separaram-se. O mito de Eros (o amor) e Psiquê (a alma) retrata a união entre o amor e a alma.
Em grego "psiquê" significa tanto "borboleta" como "alma". Uma alegoria à imortalidade da alma, simboliza também a alma humana provada por sofrimentos e aprovada, recebendo como prêmio o verdadeiro amor que é eterno.
Fonte:
KERÉNYI, C. Os Deuses Gregos. Trad. O.M. Cajado. São Paulo: Cultrix, 1993.
SOUSA, E. História e Mito. Brasília: Ed. UnB, 1981